Sua própria vida. Esse foi o eixo condutor de Mario Vargas Llosa na defesa invariável à democracia que apresentou na noite desta quarta-feira em Porto Alegre, no Fronteiras do Pensamento. O escritor peruano falou sobre momentos que o fizeram abandonar uma visão de mundo simpática ao socialismo para se dedicar cada vez mais à divulgação e ao debate sobre o regime democrático liberal.
Aos 80 anos, o escritor falou por mais de uma hora de modo contundente, por vezes até inflamado, sobre como se encantou com o ideal socialista ainda na adolescência, chegando a militar por um ano no então clandestino Partido Comunista Peruano. Mais tarde participou de um comitê de intelectuais da Cuba de Fidel Castro, visitando o país cinco vezes em 10 anos.
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– Fui descobrindo por alguns episódios que a ideia que fazíamos de revolução não correspondia à realidade. Era uma visão romântica, mítica, mas a ilha vista de dentro tinha características bem diferentes – afirmou o escritor.
Para Llosa, o descrédito total com o socialismo se deu com o estabelecimento da Unidades Militares de Ajuda à Produção (Umaps) em Cuba:
– Eram um eufemismo para campos de concentração. Ali a revolução colocava dissidentes, delinquentes comuns e homossexuais.
Já as ideias liberais se sedimentaram no escritor a partir de leituras de pensadores como Isaiah Berlin e Karl Popper.
– As sociedades que praticam há mais tempo a democracia liberal são as que mais conseguiram reduzir a violência e criar condições dos homens realizarem seu sonhos e ambições – afirmou.
Questionado sobre a situação política brasileira, Llosa se posicionou:
– Está ocorrendo um movimento anticorrupção. Há cada vez mais um sentimento de desgosto e rebeldia contra o abuso de poder, contra quem usa o poder para enriquecer. Esse sentimento me parece muito positivo, pois não pretende destruir a democracia, mas limpá-la, torná-la cada vez mais decente e transparente – disse, recebendo aplausos.
O escritor também observou avanços na política latina nos últimos anos:
– O Uruguai, por exemplo, já foi de uma esquerda muito radical. No entanto, esta mesma esquerda, que não acreditava na democracia, hoje a pratica. Além disso, o país tem uma economia aberta, de mercado. Isso pareceria inconcebível há 20 ou 30 anos para um esquerdista.
Durante as perguntas, a opinião do conferencista a respeito do candidato a presidente americano Donald Trump também foi perguntada. Llosa não pestanejou:
– É um palhaço monstruoso – exclamou. – Mas um palhaço pode ser muito perigoso. Trump toca em um nervo humano profundo: o da desconfiança em relação ao outro, ao diferente. Desperta o preconceito das pessoas para conseguir votos. Não creio que será eleito, mas caso fosse, seria gravíssimo para os EUA e para o que o país representa ao mundo ocidental.
Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e parceria cultural PUCRS. As empresas parceiras são Liberty Seguros, CMPC Celulose Riograndense, Souto Correa, Sulgás e Stihl. Com parceria institucional Hospital Mãe de Deus, Fecomércio e Unicred, e apoio institucional UFCSPA, Embaixada da França e Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Universidade parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.