Com estreia prevista para esta quinta-feira no circuito de cinemas, Ponto Zero marca a chegada do diretor José Pedro Goulart, 56 anos, ao longa-metragem. É um primeiro longa tardio, dado que o primeiro curta, Temporal (codirigido por Jorge Furtado), foi lançado em 1984 – e que o histórico O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, realizado pela dupla em 1986, já completou 30 anos. Mas veio "em um bom momento", define o cineasta, um dos fundadores da Casa de Cinema de Porto Alegre e o criador das produtoras Zeppelin e Mínima.
– Fiz muita coisa nesse período. Cinema é algo complexo, cheio de percalços. Faz parte. Estou satisfeito – afirma.
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Ponto Zero conta a história de Ênio (Sandro Aliprandini), um adolescente de 14 anos sufocado pelos desafios do amadurecimento, tanto em casa quanto na escola, onde não é exatamente um dos garotos mais populares. O pai, um radialista (Eucir de Souza), é rude. E nem sempre está presente. A mãe (Patricia Selonk) sofre com a frieza e a grossura do marido. No meio dos dois, o guri se vê assombrado pelos sinais de que a vida adulta está chegando.
Belas e surpreendentes imagens de Porto Alegre (leia mais na crítica do filme) contextualizam a trama, especialmente aquelas que enfatizam a sensação de inadequação do jovem protagonista, tanto à cidade em que vive quanto à família à qual pertence. Certa noite, quando Ênio pega o carro escondido para ir à região da Avenida Farrapos, provavelmente ao encontro de uma prostituta, há uma quebra da estrutura narrativa. Um acidente transforma a experiência de rebeldia em uma espécie de pesadelo, cujas resoluções não são menos impactantes para o espectador – pelo contrário.
– Essa fase da vida é significativa, muitas coisas que acontecem nos marcam para sempre. E o que é mais interessante: ainda não sabemos lidar com essas coisas. Daí o porquê desse estilo calado, silencioso do Ênio – explica Goulart. – Mas gosto de pensar Ponto Zero como um filme sobre o amadurecimento de maneira geral, e não apenas sobre a juventude.
Exibido no Festival de Gramado de 2015, de onde saiu com dois troféus (melhor montagem e som), Ponto Zero entrará em um circuito cada vez mais hostil ao cinema nacional – à exceção das comédias populares da onda de "globochanchadas", são raros os longas que dispõem de tempo e espaço para encontrar seu público.
Goulart prefere não reclamar:
– Vamos devagarinho, estreando primeiro em algumas cidades, depois em outras. O filme é diferente do usual, mas as reações a ele têm sido muito boas. O público age como se tivesse deparado com uma boa surpresa, com respeito e aquele jeito de quem sai um tanto impactado. Que siga assim.