A produção hollywoodiana Amor por Direito (2015) passeia por uma curiosa variedade de gêneros cinematográficos: começa como policial, envereda em seguida pelo romance, flerta com o "filme de hospital" e termina em clima de "filme de tribunal". Acima de tudo, porém, a cinebiografia dirigida por Peter Sollett é um libelo a favor da igualdade de direitos aos casais homossexuais, dramatizando uma história real que, no começo dos anos 2000, abriu caminho para a legalização no ano passado do casamento gay nos Estados Unidos – uma conquista que gera ainda hoje polêmica e é contestada em Estados como a Carolina do Norte.
Amor por Direito acompanha o relacionamento entre a policial Laurel Hester (Julianne Moore) e a mecânica Stacie Andree (Ellen Page) – do início do namoro aos últimos dias da detetive que luta contra uma doença terminal e pelos direitos de sua companheira. Condecorada oficial de polícia, Laurel envolve-se com Stacie – 19 anos mais jovem do que ela – em um relacionamento que mantém em segredo de seus colegas e até de seu parceiro Dane (Michael Shannon, da série Boardwalk Empire).
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A discreta vida do casal é abalada quando Laurel é diagnosticada com um câncer em adiantado estágio: ao iniciar a batalha enfrentando a devastadora doença, a investigadora descobre que não pode indicar Stacie como beneficiária de sua pensão depois que ela morrer – apesar do reconhecimento legal à relação de ambas. Começa então uma disputa jurídica com o condado de Ocean, no Estado de New Jersey, que se nega a estender o direito à companheira da exemplar policial com 23 anos de serviços prestados à comunidade local.
Laurel e Stacie vão contar com a ajuda de dois homens nessa peleja por justiça: o policial hétero Dane, que decide colocar-se ao lado da parceira a despeito da omissão da corporação, e o advogado de direitos humanos gay Steven Goldstein (Steve Carell, um tanto caricato). A direção pesada de Peter Sollett, que privilegia os maniqueísmos entre progressistas e conservadores às sutilezas da história, e o roteiro previsível e pouco inspirado de Ron Nyswaner – indicado ao Oscar pelo filme Filadélfia (1993) – imprimem por vezes um tom chapado de telefilme a Amor por Direito. As atuações de Julianne Moore e Ellen Page – lésbica assumida e militante da causa LGBTT –, no entanto, emprestam verdade e sensibilidade a suas personagens, contribuindo para que a discussão proposta pelo filme mantenha na tela seu vigor e sua urgência.