Beyoncé provou mais uma vez que conhece muito do mercado da música pop. Apostou em um novo álbum-visual, Lemonade, lançado no último sábado. O disco tem 12 faixas, todas compostas e co-produzidas por ela, e um média-metragem que intercala vídeos para cada canção com versos da poetisa britânica-somali Warsan Shire.
O álbum deve estrear em primeiro lugar no top Billboard 200 se as previsões de que venda cerca de 450 mil cópias em sua semana se estreia se confirmem. Será a sexta vez que a diva conseguirá o feito, já que seus outros cinco álbuns de estreia também tiveram o mesmo desempenho em sua semana de lançamento.
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Lemonade é uma clara ode ao empoderamento e perseverança das mulheres negras e uma declaração contra o racismo. O sexto álbum de estúdio da artista de 34 anos tem uma série de colaborações de outros astros: Don't Hurt Yourself tem coautoria de integrantes do Led Zeppelin, também estão presentes o aclamado rapper Kendrick Lamar (Freedom), o guitarrista Jack White e a jovem sensação do R&B The Weeknd.
Com várias referências a personagens e fatos históricos, Beyoncé parte de uma história privada para falar sobre um contexto maior, em um álbum claramente político que demarca sua posição como uma artista negra. Entenda quais são as ancoragens de Lemonade.
1) Limonada e escravidão
O título do álbum é uma referência ao hábito de os escravos americanos tomarem limonada acreditando que ela embranqueceria suas peles. Ela ainda cita isso, quando repete em uma parte do disco uma receita que aprendeu com sua avó:
"Pegue meio litro de água, acrescente 220 gramas de açúcar, o suco de oito limões e raspas de um limão. Passe a água para um recipiente e depois para outro, várias vezes. Coe por um pano de prato limpo. Avó. Alquimista. Você teceu ouro a partir desta vida dura. Criou beleza a partir das coisas deixadas para trás. Encontrou a cura onde ela não vivia. Descobriu o antídoto em sua própria cozinha. Quebrou o feitiço com suas próprias mãos. Você passou essas instruções à sua filha, que as transmitiu à filha dela."
2) Feminismo, padrões de beleza e independência da mulher
Em duas músicas, há clara referências à beleza do cabelo afro. Na letra de Sorry, Beyoncé menciona Becky do cabelo bom (É melhor ele ligar pra Becky do cabelo bom). Na cultura americana, Becky refere-se ao arquétipo da mulher branca de classe média. A preferência por manter o cabelo afro também é referida em Formation.
Já 6 Inch fala sobre as conquistas profissionais e financeiras das mulheres. O título da faixa faz alusão ao salto alto, usado com símbolo de riqueza e poder.
A cantora ainda convidou mulheres negras influentes para participar dos vídeos, como Serena Williams, Zendaya, Amandla Stenberg, Winnie Harlow e Quvenzhané Wallis.
3) Malcolm X
Em Don't Hurt Yourself, Beyoncé cita uma frase do líder revolucionário negro Malcolm X, assassinado em 1965 aos 39 anos. "A mulher mais desrespeitada da América é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida da América é a mulher negra", canta ela para, em seguida, utilizar trechos de discurso do militante, como "Uma vez motivado, ninguém mais é capaz de mudar tão completamente quanto alguém que esteve no fundo do poço".
A cantora já havia feito alusão a Malcolm X no Super Bowl, em fevereiro.
4) Direitos Civis, violência policial e negritude
Em Freedom e Formation, que encerram o álbum, Beyoncé adentra fortemente nas questões raciais contemporâneas e refere-se a violência policial contra negros. Freedom fala sobre negritude na América traz mães de jovens negros assassinados pela polícia, incluindo Michael Brown e Eric Garner, aparecem segurando fotos de seus filhos. "Liberdade, liberdade, onde você está? Porque eu também preciso de liberdade" e "Vou continuar a correr, porque uma vencedora não desiste dela mesma" são frases que ela canta.