Curtis “50 Cent” Jackson construiu uma carreira bem-sucedida e controversa no mundo do rap. Antes, envolveu-se no tráfico de drogas e sobreviveu a um tiroteio. No ano passado, declarou falência e, desde então, se dedica à TV. Neste domingo, no canal Fox Action (serviço do pacote Fox+), estreia a segunda temporada dePower, série na qual ele atua e produz.
O drama retrata os estilos de vida glamourosos de Manhattan e o submundo do tráfico internacional de drogas. A trama rendeu mais do que um trabalho na TV a 50 Cent. Enquanto fazia a primeira temporada, o rapper escreveu 11 músicas que têm como base a produção. Abaixo, leia uma entrevista com 50 Cent sobre a série.*
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Em quanta encrenca o seu personagem se mete na segunda temporada, já que ele saiu da cadeia no final da primeira, e eu presumo que ele vá causar confusão?
Agora eu estou em ação. Kanan está de volta à cidade tentando reconstruir o que tinha antes de partir. Então é empolgante. Eu apareço em sete dos 10 episódios.
Você sempre teve em mente a expansão de um perfil de atuação maior na segunda temporada? Ou foi só uma questão de disponibilidade? Como isso acabou acontecendo?
Bem, teve um momento durante o processo criativo no qual eu iria interpretar Ghost. Daí eu e Courtney (Kemp Agboh), nós conversamos sobre o projeto constantemente, e cheguei ao ponto de ficar tão empolgado a respeito que quis me comprometer a fazer o papel principal. E daí, quando estávamos com quase tudo pronto, discutimos sobre quanto tempo seria exigido e sobre o que eu realmente teria de não fazer no restante da minha vida. Eu disse "Não, Omari é, com certeza, Ghost". Ele deveria ser Ghost, sem dúvida. E Kanan, o personagem, é todo de Courtney. Ela o desenvolveu e me pôs no papel sobre o qual eu estou realmente empolgado quanto a interpretar nessa temporada. Então, eu tenho a oportunidade de me exibir um pouco, já que eu tive alguns momentos ótimos na temporada atual que eu acho que o público vai considerar autênticos e entusiasmados quanto ao personagem quando forem vê-los.
Bem, tendo assistido a Omari por duas temporadas, o que ele foi capaz de fazer que você acha, em retrospecto, que não conseguiria se você mesmo interpretasse o personagem?
Bem, sabe, as cenas de sexo. As cenas de sexo eram, tipo, bunda inteira na câmera, e eu não sei se conseguiria fazer isso desse jeito. Omari é o tipo de talento que faz você querer ficar de olho nele. Às vezes, ele acaba virando o treinador da equipe inteira. Tipo assim, ele dá um passo para trás e diz "Olha, vamos tentar assim. Vamos fazer um take que tenha uma energia totalmente diferente. " E acabamos fazendo isso mesmo e, às vezes, conseguimos uma resposta bem positiva do diretor, e tem vezes em que fazemos isso e o diretor diz "O que diabos foi isso?" Tem esses momentos diferentes nos quais você faz isso impulsivamente, mas é algo que acontece entre os atores de fato, e não sem o resto do estabelecimento.
Curtis, você tem sido um contador de histórias durante toda a sua vida, o durante sua vida adulta. Quão diferente é o rap da atuação?
Bem, a música é a prioridade maior. Mesmo fazendo parte desse projeto, eu queria criar um segmento que tivesse momentos durantes os quais a música falaria por ele. Como eu estava tão concentrado no projeto bem no começo, com Courtney, escrevi 11 músicas. Existe um álbum baseado nessa série. Então, tendo em mãos as primeiras 11 músicas que tínhamos composto até nos encontrarmos com os estúdios para propor o programa, possuíamos um álbum pronto para tocar, que eles ouviriam que seria uma referência ao que o projeto se tornaria. E, pouco depois, eu criei Big Rich Town, a faixa-título do próprio programa, pois eu achei que o tinha resumido bem, e esse processo é um pouco diferente, porque quando mostrei a ideia original a Courtney, ela me deu um olhar, tipo, "Espere aí, eu concordei com várias coisas que você disse que não funcionavam para você, mas, dessa vez, não vou arredar o pé." E eu fiquei todo "Não, não, não, veja." E, depois, eu montei isso na nova produção, pois a ideia original para Big Rich Town é uma pequena amostragem de Dead End Street, de Lou Rawls. Então é material vintage. Tem a velha energia terrena do soul que eu queria trazer a Power. Então, eu tinha de encontrar algo que tivesse isso e que funcionasse perfeitamente.
A trajetória de afro-americanos na televisão tem sido uma ou de bandidos genéricos ou de pessoas exemplares e, ainda assim, anti-heróis brancos têm se tornado bastante populares nos últimos anos. Quer dizer, isso não representa simplesmente uma nova etapa na qual pessoas podem ser incrivelmente complicadas, ser más, ter elementos de bondade e o público ainda vai querer assisti-las?
É acho que tudo isso, sim. Você se vê assistindo o programa e gostando do vilão. Todos nós temos uma pinta de rebelde nos nossos personagens e, às vezes, as pessoas forçam esses limites e fazem coisas que são contra as regras e gostam de desobedecer à lei. E, quanto mais fazem isso, maior essa pinta se torna, até que elas decidem que o que dizem é o que vai ser, ponto final. Sabe, a razão pela qual assistimos e nos identificamos com elas é porque temos essas capacidades, sentimos as emoções que elas sentem antes de quebrar a lei. As pessoas sabem a diferença e consegue se controlar baseando-se nas repercussões. Não somos tão diferentes. Somos pessoas.
* Tradução de Júlia Soares e Vicente Nogueira