O diretor japonês Hirokazu Kore-eda é um dos grandes nomes do cinema contemporâneo. Desde o sucesso de Depois da Vida (1998), seus filmes têm alcançado a incomum aclamação tanto da crítica quanto do público. Seu mais recente título, Nossa Irmã Mais Nova (2015), foi muito bem recebido no último Festival de Cannes. Em cartaz na Capital, o melodrama volta a dois temas recorrentes na filmografia do diretor de Ninguém Pode Saber (2004) e Pais e Filhos (2013): a morte e as ligações familiares.
No novo longa do diretor, as irmãs Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa) e Chika (Kaho) vivem juntas em uma grande casa na cidade litorânea de Kamaruka. Apesar de não verem o pai há 15 anos, elas resolvem ir ao seu enterro no interior do país, onde acabam conhecendo a adolescente Suzu Asano (Suzu Hirose), filha do novo casamento paterno. As três convidam a graciosa e recatada caçula – fruto do relacionamento que provocou a separação dos pais do trio – para morar com elas. Com o convívio, afloram entre as irmãs as conexões afetivas, os ressentimentos mal escondidos e as fraturas emocionais de quem teve a infância marcada pelas ausências do pai e da mãe.
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Na tradição dos diretores conterrâneos Yasujiro Ozu (1903 – 1963) e Mikio Naruse (1905 – 1969), Kore-eda herdou dos mestres a sensibilidade na abordagem da peculiar arquitetura da família japonesa. Sua grande contribuição à linhagem de retratos sobre a sociedade nipônica como Era uma Vez em Tóquio (1953), de Ozu, e Midareru (1964), de Naruse, talvez seja a forma delicada e dramaticamente inteligente com que trata a morte e o vazio deixado por ela. Ainda que em alguns momentos o sentimentalismo quase domine a encenação, Nossa Irmã Mais Nova mantém-se muito acima da lacrimosa abordagem hollywoodiana do tema. O diretor Kore-eda extrai do elenco feminino – especialmente de Haruka Ayase, que interpreta a irmã mais velha – o tom exato de seu drama: emocionante sem pieguismo.