Um dos intelectuais de maior atuação e projeção internacional, dono de uma erudição pop que o fez transitar entre as áreas acadêmica, editorial e midiática, Umberto Eco será enterrado terça-feira na Itália. Morto na sexta-feira, aos 84 anos, o teórico e escritor italiano, que vendeu 30 milhões de livros traduzidos para mais de 40 idiomas, está sendo velado no Castelo Sforzesco, em Milão. O imponente local foi especialmente escolhido: nele está abrigado um museu com obras de Da Vinci e Michelangelo que Eco via da janela de sua casa, onde mantinha uma biblioteca com 30 mil volumes.
Conforme seu pedido, o escritor, que era ateu, recebeu um funeral laico. A causa da morte não foi informada pela família. Porém, segundo a agência de notícias France Presse, lutava contra um câncer.
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O esteta
Antes de se tornar mundialmente conhecido pelos trabalhos em semiologia e literatura, Umberto Eco se destacou na filosofia da arte, especializando-se nas teorias estéticas da Idade Média. Em 1956, aos 24 anos, publicou sua tese sobre a estética em São Tomás de Aquino. Esse estudo é a base do livro Arte e Beleza na Estética Medieval (1987, Record). Outros títulos seus conhecidos em estética e história da arte são História da Beleza (2004, Record) e História da Feiura (2007, Record).
O semiólogo
Nos anos 1960, Eco se tornaria, ao lado de nomes como Roland Barthes, umas das principais vozes da semiologia, campo de estudos que ganhara destaque com o avanço das teorias da linguística e do estruturalismo. São desse período duas de suas obras mais famosas, hoje referenciais nos estudos de comunicação. A primeira, Obra Aberta (1962, Perspectiva), tornou-se um marco ao desenvolver a ideia de que o sentido de uma obra é completado pela interpretação de um leitor/espectador para além da intencionalidade do autor/artista – ele desdobraria o tema em Os Limites da Interpretação (1990, Perspectiva). A segunda, Apocalípticos e Integrados (1964, Perspectiva), colocou em discussão a alta cultura erudita e baixa cultura popular no período da comunicação de massa e da indústria cultural.
O romancista
Consagrado como teórico e aproximando-se dos 50 anos, Eco ganhou o grande público com seu primeiro romance, O Nome da Rosa (1980, Best Bolso). O livro, que vendeu milhões de exemplares no mundo, foi adaptado em 1986 para o cinema pelo francês Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery no papel do monge franciscano Guillaume de Baskerville, o ex-inquisidor encarregado de investigar a morte suspeita de uma freira em uma abadia do norte da Itália. Depois, Eco lançaria outros romances, como O Pêndulo de Foucault (1988, Record), A Ilha do Dia Anterior (1994, Record) e A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2004, Record). Sua mais recente obra literária, Número Zero (2014, Record), é um thriller contemporâneo centrado no mundo da imprensa.
Obra póstuma
Eco deixou um livro pronto: Pape Satàn Aleppe, com textos publicados desde 2000 na coluna La Bustina di Minerva, do jornal L’Espresso. O título vem da frase de abertura do Canto 7 do Inferno, de Dante Alighieri. Selecionados pelo próprio Eco, os textos têm como ponto em comum a noção de uma sociedade líquida, conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman. Eco assinava a coluna desde 1985, e o último texto, publicado em 27/1, tratava de exposição, em Milão, do pintor do romantismo Francesco Hayez. Pape Satàn Aleppe ainda não tem edição brasileira confirmada.