Better Call Saul 2 acaba de começar, e eu fui conferir, óbvio. Em Breaking Bad, Saul Goodman era o advogado do diabo definitivo e o poço profundo e sem fundo da moral dos nossos tempos. Ele era divertido, e creio que todo mundo esperava uma comédia de Better Call Saul. O que vemos acontecer é um bom sujeito, Jimmy McGill, cansar de ser bonzinho. "No more Mr. Nice Guy", como cantava Alice Cooper.
Nunca mais se exaurir tentando passar nos exames de advocacia, nunca mais tentar impressionar o irmão bem sucedido, nunca mais fazer a coisa certa, porque, ora vejam, não vale a pena. Muito melhor explorar o que a vida tem para oferecer, na forma de trouxas doidos por quem os explore. Muito melhor sair sem pagar a conta, muito melhor ficar na piscina o dia inteiro enquanto os honestos trabalham para você. Muito melhor ser o pior, é o que Jimmy passa a acreditar e viver, na forma de Saul.
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A série é perfeita porque tudo está nos detalhes. Ela é perfeita porque nos trata como gente, e não como compradores de xampu. Ela não tem o poder de fogo de Breaking Bad, e nem foi feita para isso. Ela é um estudo sobre a alma humana e seus labirintos, e eu, caros leitores, fico sem fôlego aguardando cada joia com que o roteirista nos presenteia, a cada sequência. Ao longo da série, Jimmy se torna Saul, em um processo que tem que ser trágico, porque é o de um bom sujeito se transformando em um péssimo sujeito para, no final, como vemos, acabar numa loja de fast food com medo de tudo e de todos.
O que não é divertido em tudo isso é que, nesse justo momento, a Netflix resolve se comportar como televisão normal, nos dando um episódio por semana, e não tudo ao mesmo tempo agora. Isso é crueldade, tortura, e se eu soubesse onde fica o cofre onde guardam o VHS com os episódios, daria um jeito de abrir e me esbaldar. Better Call Saul faria de mim um criminoso, como fez com Jimmy. Cuidado com o que vocês veem por aí, caros leitores. Essa é a dica.