Quando seu Natalício nasceu, a estrela-boieira retouçava num límpido céu de 25 de dezembro. No tempo que cantava de galo, costumava dizer que o dia que o Papai Noel botasse as botas nos pagos, vestindo aquelas bombachas vermelhas, seria corrido pelas guampas de um boi brasino.
Alquebrado pelos corcoveios da má sorte, seu Natalício vive com Dona Maria num puxadinho nos arrabaldes de Gravataí. "Mulher doente e prato rachado duram sempre", diz o Capitão Caraguatá. A mulher não sabe ficar boa da tosse e ele cada vez pesca menos biscates. "Tô tão pobre que, quando o vizinho faz churrasco, ponho o pão em cima do muro pra pegar o aroma", costuma dizer. São cinco crias. Cristina, de apelido Tininha, conta seus aniversários nos dedos da mão. Pois foi esta que tomou providências para remediar a pobreza quando o Natal começou a cantar nos sinos e algariar promessas. Com letra miúda que nem formiga de açucareiro, escreveu: "Papai do céu: a mãe tá doente e o pai a perigo. Dá um jeito de mandar mil pratas pra ajudar. Tô levando fé nesse Natal, comprando presente pros de casa. Tininha."
A carta foi encaminhada sem identificar o destinatário, posto que o Pai Celeste habita o universo e todas suas aldeias. O endereço da remetente constava no envelope: Rua Barbosa Lessa, 132, fundos, Gravataí/RS. Os carteiros, de posse da missiva sem destinatário terrestre, tomados de um sentimento de solidariedade, se mobilizaram. Pede aqui, busca acolá, fizeram uma vaquinha, juntaram R$ 800 e remeteram à menina carente.
Véspera do Natal, era desmedida a alegria da Tininha. Mas nem por isso deixou de remeter nova carta ao Senhor: "Pai do céu: tô pra lá de contente contigo. Papai Noel foi superlegal. Mas, na próxima vez, manda um cheque". Acho que os carteiros deram de mão nos duzentos pilas que faltam. Aqui só chegaram oitocentas pratas. Feliz Aniversário, Tininha!