Hereges, livro novo do Leonardo Padura, encara o desafio gigantesco de ser o sucessor de O Homem que Amava os Cachorros. Misturando gêneros, história policial e romance histórico, com recortes temporais que aproximam a biografia de Rembrandt à de judeus cubanos do século 20, o autor consolida sua trajetória de escritor vitorioso. O lançamento é, desde já, um dos grandes momentos literários de 2015.
O erótico e hamletiano Assim Começa o Mal, do espanhol Javier Marías, é outro. Coetzee diz que ele é um dos melhores escritores contemporâneos, e tem razão. Engate com o inefável A Rainha da Neve, do Michael Cunningham. Obras de fôlego inequívoco.
Luciano Alabarse: a favor do que é certo
Lei e justiça, lá atrás e agora, e os romances de Padura e Marías bem o demonstram, são coisas distintas. Aqui, a distância diferencial desses conceitos é gritante. Indícios do envolvimento de um senador em propinas no "eletrolão" levaram um ministro do Supremo a suspender o processo, alegando incompetência da Justiça Federal. Ou seja: senadores, mesmo se corruptos, estão acima das investigações de primeira instância. Vamos combinar: leis duvidosas, justiça nenhuma.
Mas... "peraí, repara" (como cantam Arnaldo Antunes e Marisa Monte no excelente Já É, novo disco do Arnaldo): a música brasileira, ininterruptamente, nos entrega surpresas incríveis. Escute Elza Soares cantando em A Mulher do Fim do Mundo, e Ava Rocha, filha de Glauber, em Patrya Yndia Yracema. Veteranos ou recém-chegados, os artistas demonstram: o país não é só tristeza e dor.
Música Menor, álbum conjunto do gaúcho Arthur de Faria e do argentino Omar Giammarco, é emocionante. Em novembro, o "La Chicana", de Buenos Aires, vem lançar La Pampa Grande, seu disco novo, gravado com nomes icônicos da música gaúcha, na Noite Portenha do Canoas Jazz. Esses músicos estão fazendo o que, até agora, nenhum acordo de cooperação cultural conseguiu: diminuir a distância entre os idiomas do continente e construir pontes reais entre nossos países.
Há luz no túnel.