Pedras portuguesas, paralelepípedos, gente apressada e estruturas pouco amigáveis tornam a visita de um cadeirante à Feira do Livro uma cansativa jornada. Na quarta-feira, ZH acompanhou a telefonista Viviane Andrade durante o passeio. Locomovendo-se em cadeira de rodas há quatro anos, era a primeira vez que ela visitava o evento depois que a evolução de uma doença degenerativa a impediu de caminhar.
- Os acessos ao Centro são difíceis para os cadeirantes. De ônibus, você desce em um ponto e precisa superar muitos obstáculos para chegar aonde quer - explica Viviane.
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Em vídeo, veja a experiência de Viviane na Feira do Livro:
Ir e voltar do centro da Praça, em frente à estátua do General Osório, até a Rua Caldas Junior pela alameda 7 de setembro foi quase de tirar o fôlego para Viviane. Rodar pelo piso irregular de pedras portuguesas exige força e paciência - apenas os paralelepípedos do meio da praça são mais difíceis de superar.
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Além disso, a maior parte das bancas expõe seus livros em uma altura impossível de acessar para quem está na cadeira, dificultando o manuseio direto dos livros. O jeito é depender dos atendentes para saber o que está exposto, mas eles nem sempre podem dar a atenção necessária aos visitantes.
- Devido ao piso e à dificuldade de ver os livros, seria impossível fazer essa visita sozinha. Em um shopping, por exemplo, você nem sente que está percorrendo a distância, porque é muito suave. É claro que a praça é bem diferente, mas algumas ações poderiam amenizar as dificuldades - avaliou Viviane, depois de percorrer o trecho, que agrupa menos de um quarto das bancas da área adulta da Feira.
Estação de acessibilidade já promove melhorias
Encontrar e empreender ações que facilitem a circulação de pessoas com mobilidade reduzida é um dos objetivos da Estação de Acessibilidade da Feira, que fica entre o Memorial do RS e o Margs. Trata-se de um espaço que, desde 2013, agrupa estandes de empresas e entidades engajadas em ampliar a participação de indivíduos com deficiência física na sociedade. Além de ofertar material impresso a respeito do tema, promover bate-papos e vender audiolivros, algumas organizações agendam visitas com deficientes visuais e emprestam cadeiras de rodas. No último dia da Feira, um colóquio com entidades e visitantes é realizado para levantar possíveis melhorias e propô-las à organização do evento.
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Entre as conquistas dos cadeirantes, estão medidas mais amigáveis para as novas bancas. Os livreiros que trocarem as barracas antigas terão de adaptar as novas, com balaios e abas de até 90 centímetros de altura. A resolução da Câmara Rio-Grandense do Livro entrou em vigor nesta edição do evento. A Rogil, que expõe na Praça há 25 anos, já fez o novo espaço dentro das medidas. Além disso, colocou um carpete na frente do estande, que ameniza a trepidação causada pelas pedras portuguesas.
- É muito positivo ver que as coisas já começaram a mudar - disse Viviane, depois de passar pela banca.
Fabio Kohen, proprietário da Rogil, também gostou da visita:
- O mais bacana é ver que a cadeirante, para quem isso foi construído, aprovou.