Esqueça os proibidões, com letras de apelo sexual ou agressivas, as roupas curtas e, até mesmo, a falta delas. De uns tempos para cá, algumas funkeiras estão mais próximas do pop, investindo em um visual glamouroso e em músicas mais comportadas para fazer sucesso. Três são os grandes ícones desse movimento que ganhou destaque e colocou as mulheres em outro patamar no funk e na indústria musical brasileira: Anitta, Valesca Popozuda e Ludmilla. As duas últimas se apresentam neste sábado em Porto Alegre, no Baile das Divas (veja serviço da festa abaixo).
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Desde que Anitta estourou nacionalmente com o hit Show das Poderosas, em 2013, um novo mercado se abriu às funkeiras. Ao espelharem-se em grandes nomes da música pop internacional, como Beyoncé e Katy Perry, e abandonarem a sigla MC dos nomes, elas apostaram em músicas dançantes e clipes superproduzidos para conquistar público mais amplo.
O funk delas deixou as favelas e conquistou de vez o asfalto, principalmente a elite. Tanto que a festa deste sábado, na Arena do Grêmio, será a primeira apresentação de Ludmilla e Valesca em um grande local da Capital. Até então, só haviam feito shows em casas noturnas voltadas às classes A e B.
- Uma certa "pasteurização" das músicas e as transformações estéticas de algumas funkeiras fazem parte de um movimento de ocupar o mercado. Sem fazer qualquer juízo de valor, elas optaram por se adaptar, e isso, sem dúvida, trouxe ganhos enormes para as carreiras delas. Ainda não acho que elas sejam totalmente protagonistas no funk, mas com certeza ocupam um papel central no cenário da música, com um pouco mais de reconhecimento - analisa Mariana Gomes, doutoranda da PUC-RJ, que estuda funk e feminismo.
Depois que deixou o grupo Gaiola das Popozudas, de onde herdou o nome artístico, Valesca, 36 anos, passou por uma repaginação completa. Adotou um visual chique, com roupas de grife e sapatos de salto, e assumiu uma postura feminista.
Investiu alto na produção do vídeo Beijinho no Ombro - cerca de R$ 400 mil -, lançado no início de 2014, e estourou. Hoje, é uma referência de empoderamento para as mulheres, considerada diva pelos fãs, e suas músicas já foram parar em provas de escolas e faculdades e até em um discurso do presidente do Senado, Renan Calheiros.
- Na verdade, tudo é pop. Faço música popular, para público de A a Z. A mudança de visual e os funks com letras leves são um reflexo do mercado. Hoje, com a facilitação da internet, os proibidões perderam audiência. Fico muito feliz em ver a popularização do funk. Para mim, música é interação, então, quanto mais próxima do público estiver, melhor. É democracia! - escreveu Valesca em entrevista por e-mail a ZH.
Algo semelhante ocorreu com Ludmilla, que mudou até de nome. Quando surgiu com a música Fala Mal de Mim (2013), ela se apresentava como MC Beyoncé, cantora que é sua referência. Atenta ao mercado, voltou a usar o nome de batismo, adotou um visual urban chique e lançou os hits Sem Querer e Hoje, que ela considera "pop funk".
- Vimos que era preciso mudar para atingir um público maior - disse Ludmilla, de apenas 20 anos, por telefone.
Sobre o sucesso do funk entre as classes altas e possíveis diferenças entre os públicos, ela é enfática:
- Só é diferente até começar o batidão. Depois, todo mundo é igual.
SERVIÇO
Baile das Divas
Show de funk com Valesca Popozuda, Ludmilla e MC Pocahontas.
Arena do Grêmio (Padre Leopoldo Brentano, 110). Ingressos a R$ 70 (pista feminino - 1º lote), R$ 80 (pista masculino - 1º lote), R$ 90 (VIP feminino - 1º lote), R$ 120 (VIP masculino - 1º lote), R$ 200 (área Liv e Fly feminino - 1º lote) e R$ 250 (área Liv e Fly masculino - 1º lote), à venda nas lojas Multisom e no site Minha Entrada. Neste sábado, 3 de outubro, às 22h.
* Segundo Caderno