Cineasta revolucionária, Chantal Akerman morreu nesta segunda-feira em Paris. Nascida na Bélgica, ela teria cometido suicídio, segundo o jornal Le Monde. A notícia surpreendeu a todos no meio do cinema - Chantal tinha 65 anos e há pouco mais de um mês apresentou em première No Home Movie, seu mais novo filme, no Festival de Locarno (o longa está na programação do Festival do Rio, que está sendo realizado neste momento, com o título de Não É um Filme Caseiro).
O longa é uma homenagem a sua mãe, uma sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, que morreu em 2014. Amigos próximos relatam que a cineasta sofria de distúrbios maníacos-depressivos, conforme informações da agência AFP.
Artista singular, que com frequência se expressava por meio das artes plásticas - ela participou da Bienal de São Paulo em 2010 -, Chantal Akerman já foi descrita como uma filha da Nouvelle Vague francesa com a vanguarda nova-iorquina dos anos 1970. Em entrevistas, contou que despertou para a linguagem do cinema ao descobrir O Demônio das Onze Horas (1965), clássico de Jean-Luc Godard, e a obra de artistas como Andy Warhol e Jonas Mekas, expoentes da fervilhante cena vanguardista dos EUA.
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Entre seus filmes mais festejados estão Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), conhecida no Brasil apenas como Jeanne Dielman, monumental drama sobre uma jovem mãe que ganha a vida como prostituta. Neste longa estruturalista e rigorosamente encenado, ela apresenta a rotina de degradação de sua personagem principal. Logo foi alçada à condição de feminista, embora preferisse fugir de rótulos que classificava como "redutores".
Em sua fase mais produtiva, ela também lançou Je, Tu, Il, Elle (1976) e Les Rendez-vous d'Anna (1978). Mais recentemente, dirigiu Juliette Binoche e William Hurt em Um Divã em Nova York (1990) e os franceses Stanislas Merhar e Sylvie Testud em La Captive (2000), além de assinar diversos documentários de curta e longa-metragem - D'Est (1993), ou From the East, foi festejado como um dos grandes filmes sobre a vida no Leste Europeu pós-dissolução da União Soviética.
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Seu cinema de vanguarda influenciou diversos realizadores contemporâneos, entre os quais Gus van Sant. No Brasil, o cineasta Gustavo Beck e o jornalista Leonardo Luiz Ferreira dedicaram a ela o documentário Chantal Akerman, de Cá (2010), belo filme rodado com câmera fixa em um único plano-sequência, que literalmente espia a artista de longe, através de uma porta, enquanto a questiona sobre sua vida e obra.
Seu formalismo emula o próprio estilo de Chantal, uma artista que soube ao mesmo tempo pensar a condição feminina e testar as possibilidades formais da linguagem.