O tema é recorrente. Thomas de Quincey escreveu Do Assassinato como uma das Belas Artes, ou algo assim, lá por 1820, que a L&PM publicou no Brasil, se não me engano. Alfred Hitchcock filmou Rope, com o lindo título de Festim Diabólico no Brasil, no qual dois alunos brilhantes assassinam um colega apenas porque leram o Übermensch e interpretaram como quiseram.
Matar sem punição é, e faz tempo, um desejo humano, e na série How to Get Away with Murder ele é estimulado, ou provocado, por uma professora de criminologia com alguns hábitos esquisitos e alunos mais do que interessados em impressionar a mestre.
O ambiente disputado de uma escola de Direito americana é o palco inicial, e o grupo formado por alunos e professora é o ponto de partida para uma sequência mezzo grega, mezzo esquemática de eventos capazes de interligar a todos em uma vida de crimes sem retorno.
Na tradição puritana americana, quem comete crime paga, ou na cadeia, ou sendo executado por algum método bem desagradável, ou perdendo a alma de uma forma ou outra. Mesmo a bela série Os Sopranos (1999 - 2007) termina insinuando que Tony, o mafioso sem limites, está prestes a pagar pelos muitos males cometidos.
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O que a gente sente, aos poucos, é que a nova TV é diferente da velha TV, e que a moral tradicional passa a ser questionada com histórias e personagens que desafiam o lugar-comum. Não acho que How to Get Away with Murder pretenda questionar as tradições conservadoras. O que a série quer mesmo é audiência, e o roteiro trabalha para isso.
Coisas demais acontecem como deveriam acontecer, e informações críticas aparecem meio milagrosamente na hora certa. O descontrole está ausente, e sem descontrole, caros amigos, não existe vida real.
How to Get Away with Murder não é sobre o mundo real, mas sobre nossos sonhos escusos e suas consequências. Ver, vale. Acreditar, não muito, e assim seguimos todos nós, bonzinhos e podendo dormir em paz, ao contrário dos personagens da série.
Sorte a nossa.