O historiador e folclorista Antonio Augusto Fagundes morreu nesta quarta-feira, em Porto Alegre, e deixou extenso trabalho tanto no meio acadêmico, quanto no artístico. Veja a seguir o legado de Nico em cada área:
Nico pesquisador
Mestre em Antropologia Social pela UFRGS, Antonio Augusto Fagundes constituiu uma sólida trajetória também como pesquisador. É autor de livros que resgatam e recontam a história e as histórias do Estado. Entre eles, está Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul, que compila quatro mitos e 94 lendas, propondo uma classificação para os relatoes e mostrando que o imaginário local vai muito além do Negrinho do Pastoreio.
Também de sua autoria é a Antologia da Poesia Épica no Rio Grande do Sul. Da ficção para os fatos, escreveu História do Rio Grande do Sul, em que discorre sobre os episódios fundadores do Estado e sua integração com a região do Prata.
Na mesma toada, a obra Revolução Farroupilha revive os eventos marcantes que se passaram entre 1835 e 1845 e O Combate da Ponte do Ibirapuitã evoca outro episódio formador da história do Rio Grande do Sul, a Revolução de 1923, que opôs chimangos e maragatos. Além de obras que realizam panoramas históricos, Fagundes se debruçou na investigação de aspectos específicos da cultura local, como atesta o livro Indumentária Gaúcha, que trata das vestimentas da gente local.
A vida de Nico, em fotos:
Nico no cinema
Nico Fagundes dirigiu dois longas-metragens nos anos 1970: Negrinho do Pastoreio (1973) e O Grande Rodeio (1975). O primeiro contou com nomes como Grande Otelo e Breno Mello (do clássico Orfeu) no elenco. O segundo, uma produção mais tímida, teve Rejane Schumann e Ayrton dos Anjos entre os protagonistas.
Ambos os títulos falam sobre aspectos da cultura regional - Negrinho do Pastoreio adapta a lenda homônima, enquanto O Grande Rodeio narra um triângulo entre a filha de um fazendeiro gaúcho, um pretendente carioca e o professor de folclore que ensina à garota as riquezas da história local.
Fagundes foi um dos roteiristas do clássico do "cinema de bombachas" Pára, Pedro! (1969) e atuou em outros longas, entre eles Ana Terra (1971), com Geraldo Del Rey, Pobre João (1975), com Teixeirinha, e Lua de Outubro (2001), com Marcos Winter. Na minissérie O Tempo e o Vento, exibida pela TV Globo em 1985, esteve ao lado de José Lewgoy, Lilian Lemmertz e Tarcísio Meira interpretando Bento Gonçalves.
Nico na música
É autor ou coautor de cerca de cem músicas, todas elas de caráter regionalista. O Canto Alegretense, que assinou em parceria com seu irmão Euclides "Bagre" Fagundes (Nico escreveu a letra, Bragre a musicou), é a mais conhecida delas. Foi criada em 1980 e apresentada pela primeira vez em uma edição do programa televisivo Galpão Crioulo de 1983.
Projetou-se de maneira a tornar-se um dos hinos do tradicionalismo, mas não foi a única contribuição de Antonio Augusto Fagundes ao cancioneiro gaúcho. As também clássicas Origens, Minha Querência e Lenço Branco, entre outras, muitas das quais com a repetição da parceria com Bagre, também têm versos assinados por Nico.
Em alguns casos, como o de Urubu, recolheu a canção do folclore popular e a registrou, documentando-a e garantindo a sua permanência através das gerações. Vinte e três canções, boa parte de autoria sua, de Bagre e dos sobrinhos Neto e Ernesto, integram o disco Os Fagundes (2001), que lançou o grupo homônimo - e permanece como seu disco mais conhecido do grande público.
Nico na TV
Por 30 anos, Nico Fagundes foi a identidade do Galpão Crioulo, programa da RBS TV. De abril de 1982 a maio de 2012, ele comandou a atração que abriu portas para muitos artistas tradicionalistas e nativistas do Rio Grande do Sul. Nesse período, Nico e a equipe do Galpão percorreram todo o Estado para mostrar não só a música como também os costumes e a cultura regional. E esprairam fronteiras ao gravar programas em Paris e Buenos Aires.
O bordão "Até domingo que vem, gaúchos e gaúchas de todas as querências!" virou uma marca registrada. O Galpão tornou-se a principal vitrine da cultura gaúcha. Nico apresentou quase 1,5 mil programas, nos quais passaram quase 3 mil músicos, entre eles Teixeirinha, César Passarinho, Gildo de Freitas, etc. Em 13 de maio de 2012, o apresentador despediu-se oficialmente da atração, passando o comando para seu sobrinho Neto Fagundes.