Na sexta-feira, dentro da programação do 3º Festival Municipal de Artes Negras (Fesman), será lançado o documentário Dona Lila: Uma Senhora de Oxum. Com direção de Kamyla Claudino Belli e Diego Tafarel, o filme retoma a trajetória de Maurilha Gonçalves Flores (1902-1988), afamada ialorixá que, por décadas, comandou um terreiro de matriz africana na Rua Appel, no bairro Fátima.
Não é apenas sobre a faceta religiosa que se debruça a obra. Por meio de depoimentos e encenações, o filme tenta reconstituir a personalidade feminista de Dona Lila.
Resistiu ao preconceito de raça e religião (chegou a ser presa durante a ditadura por prática de magia negra), e também a pressão social de ter sido casada por três vezes - além de ter tido vários namorados até o fim da vida, como conta Vilnes Gonçalves Flores Júnior, o Nei D'Ogum - neto de Lila e coprodutor do documentário junto com Marta Nunes.
- Casamentos oficiais foram três, outros relacionamentos foram inúmeros. A gente descobriu que ela namorava sempre com homens mais jovens. Quanto mais a idade dela avançava, mais diminuía a dos parceiros - revela Nei.
Após um ano de pesquisas, os realizadores procuraram contemporâneos da sacerdotisa para que falassem sobre sua realidade. Muitos, porém, preferiram não admitir diante das câmeras certas posturas de Dona Lila. Sua vida amorosa e sua fama de ajudar mulheres a interromper gestações indesejadas, foram dois pontos sensíveis:
- Algumas pessoas confirmaram informações, mas não quiseram manchar a memória dela.
Os namorados preferiram não gravar depoimentos e ter seus nomes divulgados. A gente compreendeu. Nossa sociedade ainda é muito conservadora para essa senhora tão avançada - comenta Nei.
Gravado pela produtora Pé de Coelho, de Santa Cruz do Sul, com recursos do Fundo de Apoio a Cultura do Governo do Estado, o filme será exibido no Auditório do CCSH (Rua Floriano Peixoto, 1.884), às 20h. Entrada gratuita.