Mesmo tendo nascido há 10 mil anos atrás, Raul Seixas completaria 70 anos neste domingo. Nascido em 28 de junho de 1945 em Salvador, o Maluco Beleza influenciou o boom do rock brasileiro com sua mistura de rockabilly com baião e psicodelia - e formou parte do cancioneiro tradicional do gênero. Alçado ao estrelato em 1973 com o hit Ouro de Tolo, teve a carreira meteórica, que contou com 15 discos solo de estúdio, três deles discos de ouro, homenageada em grandes shows pelo país.
Desde quinta-feira, shows e tributos acontecem para celebrar a data: em São Paulo, o espetáculo Baú Especial Raul Seixas 70 anos uniu bandas como Plebe Rude e Cachorro Grande e os cantores Jerry Adriani, Marcelo Nova e Ana Cañas para interpetar sucessos do cantor. Já em sua cidade natal, Carlos Eládio - seu colega de grupo em Raulzitos e os Panteras, primeira empreitada musical do artista - apresentou um tributo na manhã deste domingo com a presença de convidados.
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Raul era um apaixonado pelas ciências humanas e ocultas, trazia um "mundo mágico" em suas canções, especialmente nas escritas com o parceiro de longa data Paulo Coelho, que com ele compôs clássicos como Gita, A Maçã, Tente Outra Vez e Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás e com quem criou a Sociedade Alternativa. Esta última iniciativa foi, inclusive, motivo para o exílio dos dois pelo regime militar, que acreditava que a Sociedade era um grupo de resistência armada, em 1974 - exílio do qual tanto Seixas quanto Coelho foram trazidos de volta pelo mesmo regime por causa do estrondoso sucesso de Gita, álbum gravado meses antes do incidente. "Veio uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades. Tudo para eu dizer os nomes de quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto", explicou, na época, à revista Bizz.
Raulzito se definia como um xiita do iê-iê-iê. Em entrevista à revista Pop, em 1973, afirmava ser "o único no Brasil que faz o iê-iê-iê realista, pós romântico". Porém as drogas e o álcool debilitaram a saúde do ídolo e, na década de 1980, o alcoolismo, combinado à diabetes, já cobrava seu preço. Mesmo com a saúde fragilizada, engatou uma turnê de 50 shows por todo o Brasil com o baiano Marcelo Nova, ex-Camisa de Vênus, com quem lançou seu último álbum de inéditas, A Panela do Diabo.
Em agosto de 1989, foi encontrado morto em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca.