A novela das seis vem tocando em temas atuais, delicados e espinhosos sem levantar bandeiras nem provocar polêmica. Retratando o cotidiano, Sete Vidas (RBS TV, 18h20min) conquista o telespectador ao falar sobre os novos arranjos familiares, como os meios-irmãos filhos de doador de esperma e a família com duas mães, com um texto sutil e recheado de bons diálogos. A autora, Lícia Manzo, que evita as comparações com Manoel Carlos, vai repetindo o sucesso da sua trama de estreia, A Vida da Gente (2011).
Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Débora Bloch, que faz a protagonista Lígia, disse que a novela é diferente porque, com tom realista, é "feita para os atores darem vida e verdade ao texto". A delicadeza de Lícia ao abordar os temas fazem com que o público receba a mensagem de uma forma também sutil.
Talvez aí esteja a explicação para que a cena em que Luís (Thiago Rodrigues) explica aos filhos pequenos sobre os vários tipos de família e conta ter duas mães tenha tido boa repercussão. Reação bem oposta à trama apresentada por Babilônia, na qual Rafael (Chay Suede) também tem duas mães - Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) -, que passou por mudanças após críticas negativas de parte dos telespectadores. Nem mesmo a possível relação de incesto entre Júlia (Isabelle Drummond) e Pedro (Jayme Matarazzo) - que não se concretizou, pois eles não são irmãos de fato - teve rejeição significativa do público de Sete Vidas.
HISTÓRIAS CRIAM EMPATIA COM O PÚBLICO
Entre os críticos de novelas, como Nilson Xavier e Patricia Kogut, é unânime que a forma como a autora conduz o roteiro, além claro, da direção e do bom elenco, garante a qualidade.
"A novela é atual, emula a realidade com abordagens verossímeis. Mas, acima de tudo, é folhetim. Os personagens têm alma. Bem mais fácil, assim, para o público criar empatia, se envolver, se identificar, se emocionar", escreveu Xavier em um dos textos do seu blog.
Sete Vidas não tem um personagem que simbolize a maldade. Cada figura tem desafios e conflitos internos, expostos de maneira clara. Como o protagonista Miguel (Domingos Montagner), que sempre teve dificuldade com relações amorosas e familiares e, de repente, descobre-se pai de seis filhos, todos gerados a partir de uma doação de sêmen. Aos poucos, ele precisa lidar com seu medo de relacionamentos para enfrentar a situação.
- A novela não está divorciada da vida e nisso reside, talvez, seu poder de captação da atenção. É a sociedade que pauta o folhetim, não o contrário - explica a pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão Larissa Leda.
A AUTORA
Lícia Manzo, 50 anos, é mestre em Literatura Brasileira. Escreveu roteiros para Malhação, Sai de Baixo, A Diarista e colaborou com Antônio Calmon na novela Três Irmãs (2008).
Seu primeiro folhetim solo foi A Vida da Gente, de 2011, que inovou ao não priorizar a ação, e sim os diálogos. A trama focava na relação entre as irmãs Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manuela (Marjorie Estiano) e o triângulo amoroso entre elas e o irmão de criação Rodrigo (Rafael Cardoso).
Leia mais sobre TV e Entretenimento