Quando, em 2013, a então ministra da Cultura Marta Suplicy comentou que não considerava games uma forma de cultura, fãs e produtores no Brasil se revoltaram. Em Porto Alegre, na mesma época, a produtora Swordtales seguia outro caminho e curiosamente conseguia financiamento por meio da Lei Rouanet para tocar o projeto do game Toren. Era a primeira vez que um jogo eletrônico conseguia esse tipo de incentivo no país. Daqui a uma semana, Toren será lançado e pode marcar um novo passo da indústria brasileira de games.
Final de competição de videogame lota cinema em POA e outras 17 cidades
Gustavo Brigatti: até quando seremos HUEHUEHUE?
Vai viajar? Conheça 5 jogos que não podem faltar no seu smartphone
Fruto de quatro anos de trabalho, Toren conta a história de uma menina que nasce trancada em uma torre. Ainda bebê, ela descobre que tem de ir até o céu, ainda que o motivo só seja esclarecido com o decorrer da trama. Enquanto a história avança, a personagem principal cresce, até virar uma adulta. Baseado em Shadow of the Colossus e Ico, o jogo de aventura discute temas como religião, passagem do tempo e morte.
Antes da Lei Rouanet, Toren começou a ser produzido pelos quatro sócios da Swordtales por conta própria. O diretor de arte mato-grossense Alessandro Martinello, de 29 anos, conta que muito pouco do que havia sido feito no início continuou no projeto após a injeção de R$ 370 mil que a aprovação na Rouanet proporcionou. Porém, ele não vê o ano e meio de trabalho como tempo perdido:
- Sem o financiamento, não teria como ficar com a qualidade que ficou, não só na questão gráfica. Porque, para ficar realmente bom, precisa de tempo. E tempo, nesse caso, é dinheiro. Mas nesse tempo a gente acabou aprendendo o ofício - avalia.
Assim como o trabalho da Swordtales, a indústria dos games como um todo engatinha no Brasil. Por isso, o pioneirismo de Toren pode significar um passo em direção à maior facilidade de financiamento, maior resposta de empresas a chamados de financiamento por renúncia fiscal (como é o caso da Rouanet) e até mesmo uma percepção mais clara de que as produtoras brasileiras podem, sim, investir em entretenimento. Uma pedra num muro em construção, segundo as palavras de Alexandre Machado de Sá, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais (Abragames):
- O mais importante é mostrar que existe esse caminho. Jogo pode usar a Lei Rouanet. Só que os produtores acabam não usando por desconhecimento. E o segundo ponto é mostrar que um empresário aceitou fazer renúncia fiscal para um jogo, e não para um show, que já é hábito. Precisamos ter uma discussão ampla sobre isso, para que Toren não seja um caso isolado. Essa é uma das maiores pedras deste muro que a gente está construindo.