Luciano Alabarse publicou na semana passada uma coluna sobre a função da crítica. Volto ao assunto porque não me conformo com a ausência da crítica nos nossos jornais. O foco do texto do Luciano foi como as coisas devem ser ditas. O foco do meu texto é a necessidade de ser dito, seja como for.
Quando cheguei a Porto Alegre, 45 anos atrás, circulavam na cidade sete jornais diários - Folha da Manhã, Folha da Tarde, Correio do Povo, Última Hora, Zero Hora, Diário de Notícias e Jornal do Comércio. Neles, escreviam regularmente sobre teatro Fernando Peixoto, Aldo Obino, Antonio Hohlfeldt, Marcelo Renato, Décio Presser, Luiz Carlos Lisboa, Caio Fernando Abreu, Maristela Bairros, Claudio Heemann e alguns outros, inclusive eu. Hoje, de todo esse time, restou o Hohlfeldt, o último a resistir ao modelo jornalístico que aboliu a opinião especializada em nome da mercantilização da arte.
Mas volto às minhas reivindicações. Crítica é memória, polêmica, discussão. Troca, argumentação, diálogo. O crítico é aquele que percebe e proclama o novo ao mesmo tempo em que fareja e revela o equívoco e a incompetência. Uma arte sem crítica está ameaçada por perigos avassaladores, mediocridade, estrelismo, fórmulas prontas, modismos e muitas outras coisas que estacionam na periferia da criação artística.
E a função do crítico se amplia na medida em que o palco é um espaço de atualização do texto, de interpretação do texto, de contextualização do texto. Ainda mais em tempos de indefinição dos gêneros, teatro, dança, vídeo, performance, instalações e o diabo a quatro. Ainda mais diante da ação imperialista do modelo televisivo brasileiro. É aí que entra o crítico, o bom crítico, aquele que tem formulado para si o que a arte deveria ser, muito embora não hesite em colocar em dúvida todas as suas certezas ao se confrontar com um novo acontecimento teatral.
Que voltem os críticos! Até mesmo no estilo Paulo Francis - que o Luciano tanto odiava, mas que pelo menos dizia tudo o que devia ser dito.