As palavras de Eric Clapton sintetizaram a dor de fãs e discípulos pela morte de B.B. King:
- Eu quero expressar minha tristeza e dizer obrigado ao meu querido amigo B.B. King. Quero agradecê-lo por toda a inspiração e encorajamento que me deu ao longo dos anos. Não restam muitos que tocam daquela forma pura que B.B. fazia - disse um emocionado Clapton, 70 anos, em um vídeo publicado na sua página do Facebook.
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O guitarrista britânico, que em 2000 lançou com B.B. King o álbum Riding with the King, recomendou ainda um disco que dá a dimensão da importância do mestre: B.B. King Live at the Regal (1965):
- Foi onde tudo realmente começou para mim como jovem guitarrista.
B.B. King morreu na última quinta-feira, aos 89 anos, em razão de complicações de sua saúde, que começou a preocupar seus fãs após uma internação hospitalar, em abril, em razão de uma desidratação. Ele tinha diabetes tipo 2 e recebia cuidados médicos em casa.
Um dos últimos remanescentes do time de "lendas do blues", King seguiu firme na estrada, no palco e nos estúdio enquanto a saúde permitiu. Em 2007, quando o diabetes e um problema nos joelhos passaram a restringir sua permanência em pé, prometeu "tocar até a morte". Reduziu o número de shows, mas ainda fazia quase cem apresentações por ano já octogenário.
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Em sua trajetória de mais de 60 anos, King, com sua voz potente e suas performances vigorosas, fez pelo blues algo parecido ao que Louis Armstrong (1901 - 1971) fez pelo jazz: transcendeu ao gênero para se firmar como um ícone da cultura pop. King percorria um espectro musical abraçado tanto por puristas do blues quanto por jovens roqueiros. Abraçou diferentes gerações subindo ao palco com Jimi Hendrix, Rolling Stones e U2, entre outros nomes.
A infância de Riley Ben King, nascido em 16 de setembro de 1925 em Itta Bena, Mississippi, foi parecida com a de milhares de meninos negros que trabalhavam nas plantações de algodão do sul segregacionista dos Estados Unidos. O jovem King, órfão, teve a sorte de contar durante a adolescência com o apoio protetor de Bukka White, seu primo. Este guitarrista, muito renomado na região, deu as primeiras aulas de guitarra ao futuro gênio e o levou a descobrir a grande cidade da música, Memphis, para onde se mudou em 1947.
O futuro B.B. King passou a conviver com nomes como Sonny Boy Williamson e tocava regularmente na Beale Street, conhecida como a Broadway da música negra nos EUA, onde mais tarde abriria um clube com seu nome. Sua carreira ganhou fôlego em 1949 ao ser contratado como DJ de uma rádio e ganhar o apelido que o eternizou, Blues Boy (B.B.). Com apoio de Ike Turner, King estreou com Three OClock Blues, seu primeiro hit, em 1951 e decidiu seguir carreira na música.
Além das qualidades musicais, B.B. King, condecorado em 2006 com a "medalha presidencial da liberdade", a principal distinção civil dos EUA, sempre fez questão de passar uma imagem positiva do músico de blues, sem problemas com drogas e violência que marcaram muitos contemporâneos seus.
Porto Alegre teve a oportunidade de reverenciar B.B. King nas três apresentações que ele fez na cidade: em 1986 e 1995, os shows foram no Gigantinho; em 1998, o palco foi montado no estacionamento da antiga cervejaria Dado Bier.
Eterna Lucille
Lucille, a grande paixão de B.B. King, teve diferentes curvas e cores. A história de amor começou em uma noite gelada de 1949, num bar do Arkansas aquecido por latões com querosene. O jovem de 24 anos tocava no palco quando dois homens começaram a brigar. Teve início o incêndio e, em meio à correria, King deixou a guitarra no palco. Mas decidiu encarar as chamas para resgatá-la. A companheira ganhou o nome da mulher que foi pivô da disputa: Lucille.
Embora tenha usado modelos como a Fender Telecaster, King elegeu como sua favorita a semiacústica Gibson ES-355, fabricada a partir de 1958.
- Com a possível exceção do sexo de verdade com uma mulher de verdade, nada me traz tanta paz de espírito quanto Lucille - disse King em uma de suas tantas declarações à parceira. Em 1980, a Gibson homenageou o mestre com o lançamento da B. B. King Lucille. Sua eterna garota foi celebrada também na canção e no álbum homônimos de 1968.
* Zero Hora, com agências