Entregar o de sempre para entregar sempre. Essa parece ser a lógica por trás dos espetáculos de Roberto Carlos, que se apresentou no sábado em Porto Alegre. Para as cerca de 40 mil pessoas que lotaram as arquibancadas e gramado do Beira-Rio, nada poderia ser melhor.
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Roberto subiu ao palco com 40 minutos de atraso, às 21h40min. Rei benevolente, estava à espera do súditos trancados no engarrafamento formado ao redor do estádio do Inter. A espera valeu a pena quando a banda, comandada pelo maestro Eduardo Lages, começou a se aquecer, rearrajando sucessos de RC - incluindo momentos dignos do melhor rock progressivo setentista.
O cantor pisa no palco, de branco, e o público se levanta para saudá-lo. Acenos, gracejos, tudo dentro do protocolo. O bom humor que carregaria pela próximas hora e meia vem na forma de um gaiato galanteio, para delírio completo da porção feminina da plateia:
- Porto Alegre deveria se chamar Aeroporto Alegre, de tanta mulheres bonitas que têm aqui. Só vejo aviões.
Abre os trabalhos com Emoções e os presentes se dividem entre quem já começa a chorar (e não vai parar até o último acorde), quem apenas aperta os lábios e acena com a cabeça e quem olha fixo para o palco. Indiferença não existe em um show pensado essencialmente para convertidos - não parece haver marinheiros de primeira viagem por ali.
O baú de RC não para de entregar hits: Eu Te Amo Te Amo Te Amo, Além do Horizonte, Desabafo, Mulher Pequena, Negro Gato. Em Detalhes, vai ao violão para acompanhar a banda. Lady Laura, música que fez para a mãe, diz não cantar mais com alegria, embora o amor só aumente - os poucos que seguravam as lágrimas já não fazem questão.
O som ecoa com vigor pelo Beira-Rio. Torres com caixas de som distribuem a voz de Roberto para cada canto do estádio. A voz, aliás, às vezes soa hesitante. Talvez pelo desgaste natural do tempo, talvez pelo som do microfone não estar em uma altura adequada. Difícil precisar, embora o público não parece lá muito apegado a esses... detalhes.
O exemplo maior é em Aquarela do Brasil, cover de Ary Barroso que literalmente levanta a plateia, que ocupa todo o gargarejo do palco e causa um princípio de tumulto. Nada com que o Rei não está acostumado: sem se abalar, engata Como é Grande o Meu Amor por Você seguida da finaleira clássica com Jesus Cristo.
Para a pequena multidão aglutinada, atira rosas brancas e vermelhas. E se retira.
