Após fazer o que mais gosta - fuçar nos livros enquanto frequentador - e lançar uma de suas obras na Feira do Livro de Santa Maria, agora, Alexandre Beck será o centro das atenções de um dos momentos mais badalados da festa literária. O pai do moleque de cabelos azuis e língua afiada Armandinho é a atração de hoje, do Livro Livre. O projeto ocorre sempre às 19h, na Praça Saldanha Marinho.
Responsável pela rotina questionadora de Armandinho, o catarinense se mudou com a família para Santa Maria, em 2012. O fato de ter morado a vida inteira em Florianópolis, conhecida por suas belezas naturais, não impediu que o ilustrador cedesse aos encantos do Coração do Rio Grande.
- Me encanto com o diferente. Nos primeiros meses aqui, olhava o céu, as árvores, as pessoas pilchadas na rua. Parecia que estava dentro de um filme - revela o ilustrador.
Foi por estas bandas que Alexandre viu Armandinho alcançar um sucesso jamais imaginado.
Com quase 700 mil curtidas em sua página no Facebook, o personagem mais puro dos quadrinhos oferece ainda doses diárias de humor e carinho aos leitores de oito jornais, entre eles, do "Diário". No próximo dia 18, terá um de seus livros lançados em Portugal.
Acompanhado da mulher, Janyne, e com a humildade de quem busca incessantemente aprender mais sobre o mundo que o cerca, Beck falou sobre reconhecimento, responsabilidades e, claro, sobre o Armandinho.
"A coisa já foi muito mais além do que eu poderia desejar"
Diário de Santa Maria - Como o Armandinho foi parar em Portugal?
Alexandre Beck - Há cerca de um ano, um editor português me ligou. Disse que sabia que eu não conhecia o trabalho dele e sugeriu que eu falasse com o Paulo Coelho, que poderia dizer quem ele era. Ele é o editor mais antigo de Portugal. O cara tem 90 anos, foi até São Paulo, depois até Porto Alegre para almoçar comigo. Daí você não pode dizer não. Encarei.
Diário - E como você tem lidado com a fama?
Beck - Isso é engraçado. Moro na mesma casa e trabalho no meu escritório. Esses dias, aqui na feira, o Iotti, que tem uma história, é patrimônio gaúcho, me reconheceu por causa do Armandinho. Aí, sim, me assustei. Mas não lembro disso no dia a dia. Não considero meu trabalho conhecido. O Armandinho aconteceu e, por acaso, virou trabalho. A coisa já foi muito mais além do que eu poderia desejar. Se 10 pessoas forem ao lançamento em Portugal, a gente toma um café. O mais legal é tentar entender as pessoas, desenvolver as ideias. E isso podemos fazer com qualquer um, tanto com o moço que vai recolher o lixo reciclável da nossa casa quanto com o prefeito.
Diário - Como é publicar tirinhas em oito diferentes jornais de grande circulação?
Beck - Se eu pensar nisso, travo e não faço. Terça-feira, publiquei uma tirinha, talvez, uma das mais pesadas do Armandinho, sobre a questão das armas. Hesitei muito em colocá-la na internet e ela vai para os jornais. Coloco em risco o meu personagem para que tenhamos a oportunidade de conversar, encontrar opiniões diferentes e talvez melhorar a nossa. Mais importante que o Armandinho é podermos discutir, repensar, refletir e trocar ideia sobre esses temas.
Diário - O que você está preparando para o Livro Livre?
Beck - É uma responsabilidade dar esse retorno ao pessoal que me acolheu. A ideia é fazer uma breve apresentação sobre mim, de como nasceu o Armandinho. Costumo deixar muito tempo para perguntas. Então, mais do que tentar responder questões, gosto de saber o que as pessoas estão pensando, abrir o nosso mundo. Gosto de falar sobre qualquer coisa, não tenho muitas opiniões fechadas. Podemos falar sobre bichos, livros, educação e, claro, até do Armandinho.