Filmes musicais são uma maldição, como as maldições que a bruxa espalha por Caminhos da Floresta, o filme musical que estreia agora. Boas bilheterias lá fora e por bom motivo: escondeu-se o quanto foi possível que o filme é um musical, deixando ouvir só fragmentos de canções nos trailers e teasers.
Como dizendo: que importância tem uma pequeníssima desinformação se o resultado é dinheiro a rodo e prêmios na esquina? Há 50 anos, Julie Andrews jogava a primeira canção de A Noviça Rebelde no colo dos espectadores sem que houvesse tempo para acomodação nas poltronas. Não havia dúvida: era um filme musical e quem não gostasse que já levantasse e fosse pedir o dinheiro de volta.
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No seu tempo, A Noviça Rebelde ficou mais de um ano em cartaz em Porto Alegre. Teria sido por causa daquele nocaute de canção no espectador? Sei lá, mas deve haver alguma pesquisa sobre isso. Caminhos da Floresta é só mais um filme musical. E é mais que isso: tradução para o cinema de um musical de teatro de Stephen Sondheim que, nos últimos 30 anos do século passado, foi o autor mais inventivo e imprevisível dos musicais de teatro.
Tudo podia virar musical nas mãos dele: filmes de Bergman ou Scola, a história do Japão, casamentos fracassados, assassinatos de presidentes. Caminhos da Floresta também vai longe: é um coquetel de contos de fadas, clássicos ou inventados. Vi praticamente todos os musicais de Stephen Sondheim no teatro e, entre palco e plateia, a coisa funciona - música e letra são sempre os elementos mais potentes, mesmo quando as histórias desapontam ou os personagens desagradam.
Não tenho certeza se a tradução para o cinema funciona, mas em Caminhos da Floresta há um ponto de vantagem: a partitura de Sondheim chegou praticamente intacta ao cinema, o que é raro. Assim, podemos gostar ou não gostar do que vemos, mas, pelo sim ou pelo não, o que se ouve é o trabalho de um grande cancionista do teatro musical, daqueles que só aparecem de tempos em tempos.
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Confira o trailer do filme:
Coluna
Celso Loureiro Chaves: "Caminhos da Floresta é só mais um filme musical"
O colunista escreve quinzenalmente para o 2º Caderno
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