Não há revelação alguma na afirmação de que Lulu Santos é um dos grandes autores de sucessos da música brasileira. Não seria surpreendente, portanto, que o novo disco do cantor, compositor e guitarrista mantivesse o padrão do consagrado artista. Mas Luiz Maurício vai além: o primeiro trabalho de inéditas do músico em cinco anos prova que o hitmaker continua inquieto aos 61 anos, sintonizado com a frequência pop local e internacional e disposto a confrontar as próprias convicções estéticas.
Em entrevista, Lulu Santos fala sobre "Luiz Maurício"
O melhor álbum de Lulu desde Assim Caminha a Humanidade (1994) brinca com os tempos: se a sonoridade e as letras das canções - 10 músicas originais mais dois remixes - são contemporâneas, a capa e o título do CD remetem ao passado. A imagem do encarte mostra Lulu aos oito anos ao lado da mãe, em frente à Casa Branca, em Washington D.C., em 1958. Luiz Maurício é também o nome de batismo do artista, utilizado em seu primeiro compacto solo, lançado em 1980 - e solenemente ignorado pelo mundo. "Eu me chamo Luiz Maurício /Mais conhecido como Lulu", anuncia o tema de abertura, que aparece primeiro na versão remixada pelo DJ e produtor carioca Marcello Mansur, o Memê _ colaborador de trabalhos anteriores, como o dançante álbum Eu e Memê, Memê e Eu (1995).
O talento de Lulu para criar versos inteligentes e irônicos continua afiado, como na esperta e internética SDV (Segue de Volta?), parceria com Dadi: "Eu esperei você postar / A sua decisão / Se o meu perfil no 'facelook' /Vale uma canção / Se o ícone do polegar / É positivo ou não". O CD inclui dois temas instrumentais: Blueseado, em que Lulu mostra seu lado de guitarrista roqueiro, e Drones, parceria com o músico e produtor Lincoln Olivetti - mago dos teclados dos anos 1970 e 1980.
Sucessos radiofônicos em potencial, a sacolejante Efe-se, o samba-rock Torpedo e os funks Michê (Chega de Longe Bis), com participação de Mr. Catra, e Sócio do Amor (remixado pelos DJs Sanny Pitbull e Batutinha) têm o toque do dedo verde do midas do pop nacional. Luiz Maurício, disco e artista, está antenado com as pistas, ecoando de Jay-Z a Daft Punk, de Justin Timberlake a funk carioca. Uma renovação de votos com sua época e com o que vem pela frente - compromisso assumido pelo jurado do programa The Voice Brasil desde que estreou em 1982 com o disco Tempos Modernos vaticinando: "Eu vejo a vida melhor no futuro".
*O repórter viajou a convite da gravadora Sony Music