Diante de três grandes desenhos abstratos, pode não ser tão evidente identificar as paisagens que Teresa Poester anuncia no título de sua exposição. Elas aparecem de forma mais sugestiva, como consequência de um tema que acompanha com certa insistência a artista em seus quase 40 anos de carreira.
- Nasci em Bagé e vim muito cedo para Porto Alegre. Mas é como se eu levasse na mala até hoje as paisagens da infância. É algo que veio me acompanhando - conta Teresa.
Com abertura nesta terça-feira, às 19h, na Casa de Cultura Mario Quintana, Território da Folha - Paisagens de Teresa Poester apresenta um panorama da produção da artista às vésperas de completar 60 anos. A exposição do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS) é a primeira individual de Teresa na Capital desde 2009. Até o fim do ano, ela ainda apresentará outra mostra, somente com trabalhos recentes, na Bolsa de Arte, galeria que a representa e pela qual participou em abril da feira SP-Arte.
Território da Folha destaca a extensão da trajetória de Teresa, marcada pelo viés expressionista de sua produção individual e pela referência que se tornou no desenho como professora do Instituto de Artes (IA) da UFRGS.
- Teresa tem uma trajetória consistente. Merece uma retrospectiva, mas esta exposição é menos ambiciosa - comenta o curador, o professor e crítico de arte Eduardo Veras. - Olhando para o trabalho dela, apareceu a ideia de que há uma persistência da paisagem, entendida em um sentido amplo.
Nas mais de 50 obras reunidas, desde a década de 1970 até este ano, a recorrência das paisagens aparece nos diferentes modos com que Teresa trabalha, sempre estabelecendo relações com a tradição do gênero, que remonta ao Renascimento e acompanha o desenrolar da história da arte. Nas obras mais antigas, ainda figurativas, as paisagens surgem ao fundo ou como cenário visto pela abertura de janelas e pelo vazado de grades. Já outros trabalhos são assumidamente paisagísticos.
- Alguns dos primeiros pintores abstratos do ocidente, como Kandinsky, Klee e Mondrian, foram paisagistas antes. Então, a paisagem me deu margem para entrar na abstração que hoje marca o meu trabalho, priorizando muito o gesto - conta Teresa.
Com formação no IA da UFRGS, Teresa fez mestrado e doutorado em diferentes temporadas na Europa. Foi o distanciamento que a levou a se reencontrar com a paisagem como um imaginário guardado desde a infância. Especialmente quando passou uma temporada de quase 10 anos frequentando a região rural de Éragny-sur-Epte, no norte da França, onde o impressionista francês Camille Pissarro (1830 - 1903) notabilizou-se como grande nome da pintura paisagística.
- Quando morei na Espanha, meu trabalho começou a se ligar mais à paisagem. Depois, na França, usei a paisagem como mote para a abstração. Não é que eu sempre olhe paisagens e faça desenhos. Muitas vezes, é o contrário: faço desenhos e depois vejo paisagens neles.
Além de desenhos e pinturas, incluindo inéditos e guardados, Território da Folha ainda apresenta vídeos e trabalhos que a artista tem feito recentemente, misturando técnicas de gravura, fotografia e desenho. São experimentos resultantes em grande parte das atividades que realiza com alunos no Atelier D43 no IA da UFRGS.
Território da Folha - Paisagens de Teresa Poester
> Abertura terça-feira, às 19h. Visitação segundas, das 14h às 19h, terças a sextas, das 10h às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 12h às 19h. Até 1º de junho. Gratuito.
> Museu de Arte Contemporânea do RS _ Galeria Sotero Cosme, 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana (Andradas, 736), fone (51) 3221-5900, em Porto Alegre.
> A exposição: apresenta um panorama dos quase 40 anos de carreira de Teresa Poester, destacando a recorrência da paisagem como tema em suas obras.