O filme em cartaz na Capital participou do recente Festival Varilux de Cinema Francês, que exibiu 15 novos títulos em 45 cidades do Brasil e trouxe ao país diretores e atores franceses. O longa dirigido pelo ator e realizador Jalil Lespert concentra-se nos primeiros 20 anos de carreira de Yves Saint Laurent (1936 - 2008), que começou a trabalhar no ateliê de Christian Dior em 1957, com menos de 18 anos. Com a morte do designer, o jovem nascido na Argélia assumiu a maison Dior, tornando-se a sensação do mundo fashion aos 21 anos.
Ao mesmo tempo em que ascende profissionalmente, o enfant gâté da moda parisiense envolve-se com Pierre Bergé, empresário que passa a administrar a carreira do costureiro - incentivando YSL a criar sua própria grife e tornando-se seu companheiro por toda a vida. Apesar do sucesso, o casal tem que conviver com a fragilidade psíquica e emocional do protagonista - maníaco-depressivo cuja dependência do álcool e das drogas aumenta com o passar dos anos.
Um dos atrativos de Yves Saint Laurent é a preciosa reconstituição de época, que inclui peças originais como vestidos, croquis e amostras de tecidos do acervo da Fundação Yves Saint Laurent-Pierre Bergé. A dupla central de intérpretes também destaca-se em cena: Pierre Niney, integrante da prestigiosa Comédie-Française, recria com impressionante perfeição a figura de YSL, enquanto o ator e diretor Guillaume Gallienne - realizador de Eu, Mamãe e os Meninos (2013), fenômeno recente do cinema francês - encarna com sobriedade o porto seguro na vida do instável e inquieto estilista.
Confira a entrevista com o diretor e ator Jalil Lespert:
Por que você concentrou a narrativa em um determinado período da vida de Yves Saint Laurent?
Jalil Lespert - Decidi privilegiar os 20 anos do auge da carreira dele, que correspondem também aos primeiros anos de sua história de amor com Pierre Bergé. É a época de ouro de Saint Laurent. Os anos 1970 e 80 foram menos criativos não só para ele, mas para o mundo todo, e afetaram até mesmo seu relacionamento com Bergé. Saint Laurent nunca conseguiu livrar-se da dependência do álcool e das drogas.
Por que você escolheu filmar a vida de YSL?
Lespert - Não era uma obsessão nem foi uma encomenda. Quando você decide fazer um filme, passa três ou quatro anos envolvido com aquele assunto. Portanto, tem que ser um tema que interesse muito. Sempre fui fascinado pelas histórias de homens com grandes ambições, que saem do nada, constroem suas carreiras e depois queimam um pouco as asas nesse voo. Queria contar uma dessas histórias francesas, e Yves Saint Laurent e seu destino era uma história apaixonante de ser narrada. Cheguei a pensar em filmar uma adaptação contemporânea de Bel-Ami (romance do escritor francês Guy de Maupassant publicado em 1885), mas decidi me concentrar em um personagem histórico. Há muitos filmes sobre Joana dArc e Napoleão, então, como sou parisiense e conheço muita gente que trabalha com moda, essa escolha foi natural para mim.
Qual foi a participação no filme de pessoas que conheceram YSL?
Lespert - Pierre Bergé foi muito importante, nem tanto no processo de escrita, mas de filmagem mesmo, liberando locais, arquivos, vestidos. Tive acesso ao estúdio onde Yves Saint Laurent trabalhava e à casa dos dois em Marrakech. O ator principal pôde conversar com pessoas que trabalharam na maison dele, como costureiras, modelos, antigas musas.
Fale sobre a escolha do elenco.
Lespert - É sempre difícil quando se faz um filme biográfico, porque o ator tem de parecer com o personagem histórico. O ator tinha que ser jovem, já que interpreta Saint Laurent dos 18 aos 40 anos. Tive a sorte de cruzar com Pierre Niney, que fez uma verdadeira performance, recriando a voz e o jeito dele. Por isso, procurei intérpretes que vêm do teatro, com uma formação mais clássica e técnica. No caso do ator que devia interpretar Pierre Bergé, foi menos complicado porque não havia tanto a questão de parecer fisicamente com ele. Mas ele tinha que ser receptivo às emoções, porque representa os olhos do espectador no filme.
Enquanto você filmava em 2013, a França vivia uma onda de manifestações contra o casamento gay. Como o filme se saiu nas bilheterias francesas?
Lespert - A França é um país conservador, católico, embora mais aberto nas grandes cidades. Houve uma escalada conservadora recente, a direita aferrou-se em torno da questão do casamento homossexual. Mas, apesar disso, o filme foi muito bem recebido, fez mais de 1,7 milhão de espectadores.
Confira o trailer:
* O repórter viajou a convite do Festival Varilux