Quem presencia a Orquestra Vermelha no palco assiste às sombras de cinco músicos tocando instrumentos diferentes. Mas no palco está apenas um deles, Matheus Leston, artista multimídia que gravou a participação de instrumentistas e agora faz turnês com as imagens e os sons deles.
O show que a Orquestra Vermelha traz de São Paulo é uma das quatro atrações do Festival Kino Beat, projeto que convida o público a enxergar a música e a ouvir as imagens. As outras são Diego Abelardo (de Porto Alegre), Opala (RJ) e Fernando Velázquez (Uruguai/SP). Cada uma mostrará um espetáculo multimídia feito a partir de música experimental e performances audiovisuais. A experiência sinestésica terá lugar no Teatro Sesc Centro, sábado, às 19h, e domingo, às 18h, com entrada franca.
A música eletrônica predomina nos números, mas pode estar acompanhada de jazz, MPB, pop e hip hop, além de recursos visuais. De cadência lenta e sonoridade complexa, as peças buscam uma aproximação do artístico para deixar a pecha de "música de festa" para trás. São obras para se apreciar sentado, e não na pista de dança.
Embora se mostre pela primeira vez com status de festival, o Kino Beat existe como projeto desde 2009 e já teve sete edições. É o filho pródigo do DJ e produtor cultural Gabriel Cevallos, que, para batizá-lo, uniu a palavra kino ("movimento", em grego, e "cinema", em alemão) ao termo beat (inglês para "batida"). Em sua primeira fase, o Kino Beat foi uma mostra de filmes e vídeos relacionados a música eletrônica na Sala P.F. Gastal; depois, sofreu mutações, migrou para os espaços do Instituto Goethe e da Fundação Ecarta e até viajou para Belo Horizonte e Caxias do Sul. Algumas edições contaram com performances audiovisuais; outras, como a de 2013, tomaram a forma de um "happening musical", sediado no pátio do Museu Joaquim José Felizardo.
Com o festival, a intenção é abrir um canal regular para manifestações musicais e visuais ligadas às mídias digitais.
- A proposta é colocar Porto Alegre em sintonia com o mundo. Existem iniciativas pontuais aqui, mas, que eu saiba, não há uma plataforma local que fomente com regularidade as novas mídias e as novas tendências musicais - diz Gabriel Cevallos, idealizador e curador do projeto.
O evento tem como referências o Multiplicidade-Imagem-Som-Inusitados, festival de performances audiovisuais surgido em 2005 no Rio de Janeiro, e o Transmediale, que celebra anualmente a cultura digital em Berlim. Segundo Cevallos, o festival Kino Beat ainda poderá ter mais edições em 2014. Seu formato é "aberto e mutante" e, nos próximos anos, pode abranger também filmes, exposições, oficinas e palestras.
Programação
Sábado, 19h
> Diego Abelardo apresenta Agnostic Orchestra (RS)
Única atração local, o compositor e poeta Diego Abelardo estreou na música fazendo bases para hip hop. Graduado em música, hoje ele é professor e executa pela primeira vez ao vivo um projeto autoral que consumiu oito anos de esforços, a Agnostic Orchestra. As peças musicais nascem de um processo eletroacústico de arranjos e mixagem rico em samples garimpados na MPB, no jazz, no funk, no hip hop e também na poesia e no cinema.
> Orquestra Vermelha (SP)
Criação do artista multimídia Matheus Leston, a Orquestra Vermelha apresenta o próprio músico tocando acompanhado por quatro projeções de artistas executando outros instrumentos. No palco, o público enxerga cinco formas, exibidas em tamanho real em telas de led. O experimentalismo marca a jam session entre telas e músicos virtuais.
*Abertura a partir das 18h com o DJ Landosystem no Café Sesc.
Domingo, 18h
> Opala (RJ)
A dupla carioca criada no ano passado une o experiente produtor musical Lucas de Paiva à cantora e compositora Maria Luiza Jobim, filha de Tom Jobim. Sutil e etéreo, o som lembra o indie eletrônico do grupo XX, mas também tem Nite Jewel, The Knife e Jai Paul entre suas influências. Fernando Velazquez participará coordenando os efeitos visuais da apresentação.
> Fernando Velázquez apresenta Mindscapes (Uruguai/SP)
O músico uruguaio traz uma performance audiovisual que constrói paisagens inspiradas em atividades cerebrais. Ao longo da apresentação, um software gera imagens aleatórias que funcionam como metáforas visuais para a percepção, o pensamento e a memória.
*Abertura a partir das 17h com o DJ Lucio Kahara no Café Sesc.
No Teatro Sesc Centro (Alberto Bins, 665), em Porto Alegre.
Fones: (51) 3284-2070 e (51) 3284-2007.
Lotação: 250 pessoas.
Entrada franca, com retirada de ingressos uma hora antes das apresentações.
Mais informações em kinobeat.com