- Não faça 80 anos - sentenciou Vasco Prado certo dia a um jovem artista que lhe pedia aconselhamento.
Ele próprio chegaria aos 80 em plena atividade, comemorados na época com uma retrospectiva na Usina do Gasômetro. Morreu aos 84 anos, em 1998, quando o Margs exibia uma exposição individual sua.
Nesta quarta-feira, 16 de abril, completam-se os cem anos de nascimento de Vasco Prado. Mas a celebração não vem acompanhada de programação à altura da dimensão de um dos mais importantes artistas do Rio Grande do Sul. O quase silêncio será amenizado no fim do mês, com a exposição Vasco Prado, o Centenário de um Farol das Artes, com abertura dia 29, na Guion Arte, galeria que ocupa o hall de entrada dos cinemas do Centro Comercial Nova Olaria, na Cidade Baixa. A produção do artista, notabilizado como o pioneiro da escultura moderna no Estado, será representada em sua diversidade, com trabalhos menos conhecidos em desenho, gravura, pintura, porcelana e tapeçaria.
Com o mérito de ser a única homenagem no mês do centenário, a exposição é resultado da reunião de mais de cem itens de sete colecionadores. Além de preciosas esculturas em terracota, a exposição terá como destaque obras que Vasco realizou na temporada que passou na Polônia no fim dos anos 1960. O organizador Carlos Schmidt conta que, à medida que as obras forem vendidas, outras peças serão agregadas à exposição:
- Isso para que se torne mais atrativa e dinâmica. O espaço que tenho é reduzido para uma exposição desse tamanho. Estamos pasmos com a indiferença em relação ao centenário do Vasco. Pensar na importância dele, na presença que exerceu no cenário cultural, e não haver nada mais.
Fora do circuito comercial, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) não tem em sua programação nenhuma atividade envolvendo Vasco. Das duas exposições em cartaz, uma é a coletiva O Cânone Pobre: Uma Arqueologia da Precariedade na Arte e a outra é a individual Mário Röhnelt - Uma Retrospectiva. A curadora-chefe, Ana Zavadil, conta que o acervo da instituição guarda 45 obras do artista, entre esculturas, desenhos e gravuras, e que algumas têm sido incluídas em coletivas apresentadas nos últimos anos.
Até o fim de 2014, Vasco deverá ganhar uma homenagem ao seu centenário que vem sendo organizada desde o ano passado. É Vasco Prado - Cem Anos, que envolve a edição de um livro sobre o artista e uma exposição dedicada a sua produção em desenho. Com curadoria do professor e historiador Círio Simon, a mostra está prevista para ocorrer no segundo andar do Santander Cultural. O projeto está inscrito na Lei Rouanet com orçamento de R$ 470 mil a serem captados por renúncia fiscal. Parte do valor, explica o curador-geral do projeto, Paulo Amaral, será usada para a restauração dos desenhos em papel, que sofreram com a ação do tempo.
- Fui procurado no ano passado pela família para organizar o projeto. Como teríamos pouco tempo para algo grandioso, optamos por fazer após a Copa e as eleições. O projeto deverá ocorrer no fim do ano - diz Amaral, ex-diretor do Margs em duas ocasiões.
Um autodidata
> Nascido em Uruguaiana, Vasco Prado foi um dos grandes nomes da arte moderna gaúcha, sendo um dos principais escultores do Estado
> Estabelecido ainda na infância em Porto Alegre, teve formação autodidata. Com uma bolsa, estudou em Paris no fim dos anos 1940 com Fernand Léger
> Com os amigos Iberê Camargo e Xico Stockinger, formava a chamada "santíssima trindade" da arte gaúcha
> Fez de suas figuras mais emblemáticas os cavalos, os cavaleiros, os nus femininos e os casais enamorados
Onde ver
> Vasco é autor de obras públicas no Brasil. Na Assembleia Legislativa do RS, fez o mural em alumínio Revolução Farroupilha (na Duque de Caxias) e a escultura em aço Tiradentes (no jardim)