Com estreia nesta quinta-feira, Getúlio acompanha os 19 dias que antecederam o suicídio de um personagem que marcou a história do Brasil. Em entrevista a Zero Hora, Tony Ramos comenta o desafio de viver Getúlio Vargas.
ZH - Você considera Getúlio Vargas um marco na sua carreira?
Tony Ramos - A essa altura da minha vida, com quase 66 anos, é um marco divisório. Aconteceu de um modo inusitado para mim: não me imaginava como Getúlio. Quando o presidente se suicidou, em 24 de agosto de 1954, minha avó preparava um bolo para meu aniversário de seis anos, que seria no dia seguinte. Lembro dela emocionada ouvindo a notícia da morte no rádio... Para viver Getúlio, eu tinha que colocar todo dia uma sobrepele neste corpinho peludo que eu tenho. Uma artesania que demorava mais de duas horas, feita por uma americana que trabalha com esse tipo de prótese em Hollywood, usando látex para fazer as bolsas dos olhos e as rugas e colando fios de cabelo branco ao meu couro cabeludo. Quando aquilo ia acontecendo todas as manhãs, eu já ia vivenciando o personagem e entendendo os silêncios do Getúlio.
ZH - O que o seduziu no papel?
Ramos - Getúlio é um personagem complexo, contraditório. Não podemos nos esquecer que esse homem também era um ditador. O que me encantou nesse roteiro é que ele não é chapa-branca: mostra a oposição a Getúlio também. Há uma frase lapidar do Getúlio que sintetiza o filme: "Eu não quero nunca me explicar, eu prefiro que me interpretem".
ZH - Chama a atenção no filme a quase ausência de sotaque gaúcho nas falas de Getúlio.
Ramos - Não se esqueçam, gaúchos, que Getúlio já estava no Rio há muitos anos. Ele era um homem de certa forma já aculturado. É preciso tomar cuidado com sotaques: você tem que ter licença poética e bom senso.
ZH - Como foi sentar na cama em que Getúlio se suicidou, manchada de sangue, e manusear a arma que ele usou?
Ramos - Tudo isso me ajudou a sentir a grandeza do personagem. No final da cena, quando a equipe aplaudiu, me deu uma chapadinha... Mas você não pode reverenciar isso, tem que interagir naturalmente com esse momento. Se isso acontece, naturalmente os poros começam a transpirar: tem um plano fechado no filme que mostra o suor escorrendo no rosto do Getúlio, transpirando de medo. Ou você acha que ele não teve medo?