O ano que terá recorde de ingressos vendidos no cinema nacional também teve bons filmes, brasileiros (O Som ao Redor, Tatuagem) e estrangeiros (Amor, Azul É a Cor Mais Quente). Entre o blockbuster Gravidade e estreias direcionadas a públicos mais restritos, como as de Holy Motors e Mistérios de Lisboa, Porto Alegre viveu uma temporada de mostras de destaque (Rivette, Mekas, Tarr) e, mais do que isso, de impulso à cinefilia graças a novos projetos dedicados à exibição de filmes e à reflexão sobre eles. Num momento em que Hollywood (e também a produção nacional) festeja bons números, mas não suficientes para estancar o receio de que a televisão e a internet vão impor uma grande crise, trata-se de um apanhado de boas notícias. A seguir, a gente preparou um resumo com alguns dos fatos e filmes do ano:
Participe!
:: Qual você acha que foi o melhor filme de 2013?
:: Qual o melhor livro de 2013?
:: Para você, qual foi o melhor espetáculo teatral do ano?
Os fenômenos da temporada
Foi um ano de poucos arrasa-quarteirões realmente bem-sucedidos, mas pelo menos um filme arrastou multidões aos cinemas: Homem de Ferro 3, campeão de bilheteria no Brasil e no Exterior neste ano, com mais de US$ 1,2 bilhão arrecadado (quinta maior quantia de todos os tempos, atrás apenas de Avatar, Titanic, Os Vingadores e o último Harry Potter). Entre os títulos milionários de 2013 (Thor 2, Meu Malvado Favorito 2, Velozes e Furiosos 6, Wolverine Imortal), o único que conjugou boa recepção de público e crítica foi Gravidade (foto abaixo).
A cinefilia volta com força
Diversos projetos de exibição e reflexão deram um impulso à cinefilia em Porto Alegre, fazendo de 2013 um ano de renovação da paixão pela experiência de ver filmes - e trocar ideias sobre eles depois das sessões. Na linha de frente do movimento estão a Sessão Plataforma e o núcleo responsável pela revista Aurora e pelo Zinematógrafo, mas vale citar também os cineclubes universitários (Cine F e Cinedrome) e os novos festivais locais, como o Diálogo de Cinema, iniciativa de uma turma de 20 e poucos anos vinda, em parte, dos cursos superiores implantados no Rio Grande do Sul na década passada.
Um recorde nacional
O cinema brasileiro viveu um "ano Jango", por conta dos filmes Dossiê Jango e O Dia que Durou 21 Anos, e um "ano Legião", com Faroeste Caboclo e Somos Tão Jovens. Esta também foi a temporada de pelo menos dois grandes longas pernambucanos, Tatuagem e O Som ao Redor (foto abaixo), este último, que estreou na primeira semana de janeiro, um filme digno de uma antologia do melhor cinema nacional em décadas. O ano da produção brasileira foi marcante também pelo sucesso popular: entre janeiro e novembro, mais de 25 milhões de pessoas foram aos cinemas ver longas nacionais, o que significa o novo recorde do país desde a retomada da produção, nos anos 1990.
As Palmas de Ouro
Os dois últimos vencedores de Cannes, o mais importante festival de cinema do planeta, estrearam em Porto Alegre em 2013. Primeiro foi Amor, o delicado e impactante filme de Michael Haneke, um dos mais duros retratos da velhice que o cinema já produziu. Mais recentemente, chegou à cidade Azul É a Cor Mais Quente, longa de Abdellatif Kechiche cercado de polêmica por conta das cenas de sexo entre garotas. O choque, em ambos os casos, se deu em dois dos mais interessantes filmes do ano.
O gaúcho e "o" gaúcho
A adaptação de Jayme Monjardim para O Tempo e o Vento ganhou os holofotes, mas a resposta do público ficou aquém das expectativas - o filme teve boa média de espectadores por sala apenas nos cinemas do Rio Grande do Sul. Outro longa de época sobre a história da região, a coprodução Brasil-Uruguai Artigas - La Redota, dirigida por César Charlone, é um dos mais interessantes ensaios já realizados sobre o mito do gaúcho.
As mulheres do ano
A temporada teve grandes atrizes em grandes papéis - para além de Cate Blanchett no recente Blue Jasmine. Teve Juliette Binoche em Camille Claudel, 1915, Barbara Sukowa em Hannah Arendt, Marion Cotillard em Ferrugem e Osso, Isabelle Huppert em A Visitante Francesa, Maribel Verdú em Branca de Neve, Nina Ross em Barbara, Greta Gerwig em Frances Ha, além das brasileiras Alessandra Negrini em O Abismo Prateado e do trio de atrizes-cantoras de O que se Move - Cida Moreira, Andréa Marquee e Fernanda Vianna. Ufa!
As maravilhas portuguesas
Tabu (foto acima) e Mistérios de Lisboa foram dois dos melhores filmes a estrearem nos cinemas durante o ano. Tabu confirma seu diretor, Miguel Gomes, como um dos mais destacados entre os que despontaram no século 21. Já Mistérios de Lisboa, com suas cinco horas de duração, foi a derradeira obra-prima de Raúl Ruiz. Estreou nos cinemas brasileiros em 2012, mas chegou à capital gaúcha em 2013.
Os veteranos (bons e ruins)
Pedro Almodóvar é candidato a decepção do ano com Os Amantes Passageiros. As voltas de outros veteranos consagrados, em contrapartida, foram muito positivas. Os irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani, com César Deve Morrer, o grego radicado na França Costa-Gavras, com O Capital, e o irregular diretor norte-americano William Friedkin, com Killer Joe - Matador de Aluguel (foto abaixo), fizeram por merecer os prêmios e elogios recebidos.
As mostras do ano
Foram várias, de nomes como Béla Tarr, Jonas Mekas, Phillipe Garrel, Ulrike Ottinger e Jacques Rivette, ou formadas por recortes como o cinema independente da Alemanha, faroestes realizados fora dos EUA e a produção contemporânea de Portugal. Porto Alegre teve uma temporada farta de ciclos de bons filmes, alguns vinculados a eventos já marcantes no calendário da cidade (a mostra de William Raban integrou o CineEsquemaNovo, por exemplo). CineBancários, Cine Santander e Sala P.F. Gastal sediaram a maior parte dessas mostras, sempre com boa qualidade de projeção - vale notar que os equipamentos dessas salas têm permitido sessões melhores do que as projeções digitais (com o selo Auwe) de muitos shoppings centers.
A relação em discussão
Dezoito anos depois daquela inesquecível noite em Viena (em Antes do Amanhecer, lançado em 1995), a relação de Jess (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy) pode finalmente ter terminado. Não que eles tenham se separado, após o reencontro na sequência Antes do Pôr-do-Sol (de 2004). É que, em 2013, depois de escreverem, produzirem e filmarem sem alardes o terceiro (e último?) filme da franquia (a própria informação de que haveria um terceiro longa só veio a público depois que ele já havia sido rodado), a dupla de atores e o diretor Richard Linklater lançaram Antes da Meia-Noite (foto abaixo). Para saber o que acontece de fato com um dos casais mais cults do cinema, você tem de ver o filme. Vale a pena.
OS 10 MELHORES DO ANO
> Tabu, de Miguel Gomes. Com Teresa Madruga e Laura Soveral. Drama, Portugal/Brasil/França/Alemanha.
> Caverna dos Sonhos Esquecidos, de Werner Herzog. Documentário, Alemanha/França/Canadá/EUA/Grã-Bretanha.
> Amor, de Michael Haneke. Com Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva. Drama, França/Alemanha/Áustria.
> O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Com Gustavo Jahn, Maeve Jinkins e Irandhir Santos. Drama, Brasil.
> Um Toque de Pecado, de Jia Zhang-ke. Com Wu Jiang. Drama, China/Japão.
> Azul É a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche. Com Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux. Drama, França/Espanha/Bélgica.
> A Bela que Dorme, de Marco Bellocchio. Com Alba Rohrwacher, Isabelle Huppert e Toni Servillo. Drama, Itália/França.
> Depois de Maio, de Olivier Assayas. Com Clément Métayer e Lola Créton. Drama, França.
> Dentro de Casa, de François Ozon. Com Fabrice Luchini e Vincent Schmitt. Drama, França.
> Killer Joe - Matador de Aluguel, de William Friedkin. Com Matthew McConaughey, Emile Hirsch e Juno Temple. Suspense, EUA.