TATUAGEM
De Hilton Lacerda. Com Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa e Rodrigo García.
Drama, Brasil, 2013.
Duração: 110 minutos.
Classificação: 16 anos.
Em cartaz a partir de sexta-feira.
Cotação: 4 estrelas (de 5)
Um dos roteiristas mais prestigiados do país, o pernambucano Hilton Lacerda replicou o mesmo talento e vigor em sua estreia na direção de ficção com Tatuagem (2013). O longa que entra em cartaz nesta sexta na Capital levou no último Festival de Cinema de Gramado os Kikitos de melhor filme, ator (Irandhir Santos) e trilha sonora.
Autor dos roteiros de Baile Perfumado (1997) e A Festa da Menina Morta (2008), Lacerda é um dos responsáveis pela qualidade do recente cinema que vem de Pernambuco - especialmente por assinar as histórias dos três provocadores longas do diretor Cláudio Assis: Amarelo Manga (2002), Baixio das Bestas (2006) e Febre do Rato (2011). Ambientado em Recife, em 1978, entre os integrantes de um grupo teatral libertário que vive e trabalha em comunidade, Tatuagem acompanha o romance entre o líder da trupe (Irandhir) e um soldado (Jesuíta Barbosa). O pano de fundo para essa paixão interdita entre o artista maduro Clécio e o inexperiente jovem militar Fininha é a resistência cultural do cabaré-teatro Chão de Estrelas em plena ditadura.
Tatuagem busca referências estéticas e visuais na produção contracultural brasileira da virada da década de 1960 para 1970: o tropicalismo de Hélio Oiticica, o Teatro Oficina dionisíaco de Zé Celso Martinez Corrêa, a ripongagem dos Novos Baianos, o cinema de guerrilha em Super-8, o despudor crítico do grupo teatral Dzi Croquettes, o filme A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Júnior.
- Essas referências estavam no meu horizonte, claro. Fenômenos como Dzi Croquettes replicaram-se no Brasil todo nos anos 1960 e 1970. Minha referência era a convivência com pessoas que viveram aquela cena. Sou de uma geração que começou a fornicar muito cedo, e que descobriu que isso poderia foder você mais adiante, por causa da aids. A gente começou a tirar a roupa nos anos 1970 e voltou a vestir-se nos 1980. Era vergonhoso ser tropical. Queria trazer de volta o sol para o Recife - respondeu Hilton Lacerda para Zero Hora na coletiva de imprensa do filme em Gramado.
Destaca-se em Tatuagem a sintonia do elenco na tela, com os intérpretes contracenando com uma intimidade notável. Um dos melhores atores brasileiros da atualidade, Irandhir Santos encarna o papel do pensador hedonista Clécio com talento e entrega - como era de se esperar, aliás. Já as autênticas revelações entre as atuações ficam por conta de Jesuíta Barbosa, tocante na pele do frágil e apaixonado Fininha, e Rodrigo García - que brilha em cena como o esfuziante e afetado Paulete, espécie de braço direito de Clécio.
- Ficamos convivendo juntos em uma casa por quase três meses para conseguirmos essa naturalidade em cena - explicou Irandhir a ZH.
Sobre as semelhanças entre Tatuagem e Febre do Rato - no filme dirigido por Cláudio Assis, Irandhir interpreta um poeta que lidera um grupo meio anárquico -, Lacerda definiu:
- Febre idealiza o passado, Tatuagem idealiza o futuro.