Faz muitos anos, li um romance de um autor francês cujo nome nunca mais consegui lembrar. Este livro, indicação da Martha Medeiros, conta a história de uma paixão extraconjugal. O casal em questão, em um certo momento da história, escapa para o Exterior até o dia fatídico em que a mulher decide voltar para o ex-marido. Cabe ao homem, que é também o narrador, fazer a vistoria da casa que alugara para viver este amor. Assim, enquanto o funcionário da imobiliária apontava riscos nas paredes e lascas nos móveis, o narrador evocava os momentos vividos ali com a sua amante: o que para o corretor era uma marca na parede ou um risco na laca de uma mesa, para o narrador era a evocação de uma noite especial, de uma briga terrível onde copos foram quebrados e palavras duras foram ditas, de um passado vivido com amor em todos os seus altos e baixos.
Coluna
Leticia Wierzchowski: Uma vistoria
A minha casa tem um estado de espírito e também seus defeitos, vincos, riscos e janelas teimosas