O Caderno da Feira começa nesta terça-feira uma ação colaborativa com a intenção de provocar a criatividade literária. É o projeto História Coletiva, em que o escritor Fabricio Carpinejar dá início a uma trama que ninguém sabe como vai terminar. A continuação ficará por conta dos leitores que tiverem seus textos selecionados a cada dia.
A ação começa nesta terça-feira, às 10h, com o trecho de abertura da história escrito por Carpinejar publicado abaixo. Até as 17h de quarta-feira, os participantes devem enviar a continuação da história, em forma de trecho com até 1,4 mil caracteres, para o e-mail historiacoletiva@gruporbs.com.br . De quarta-feira a domingo, a partir das 19h, serão publicados os textos selecionados, um a cada dia, sempre dando continuidade ao anterior, até que a história tenha cinco trechos, além da abertura escrita por Carpinejar.
Ao fim da História Coletiva, os autores selecionados terão a oportunidade de se encontrar com Carpinejar e conversar sobre os rumos da trama construída pelos diferentes autores. CLIQUE AQUI PARA LER O REGULAMENTO
______________________________________________
DIABO VERDE
Fabrício Carpinejar
Algo fedia dentro de casa. Um cheiro de gato morto. Um cheiro que atrasava os gerânios em cima da mesa.
A esposa colocava a culpa na geladeira. Achou um sushi da noite anterior e jogou fora. Não adiantou.
O odor insistia em tomar os corredores, a sala, o quarto. Quase uma voz doente de tão forte. As narinas gritavam, não mais respiravam normalmente.
Ela retirou todos os produtos da geladeira, encontrou uma rúcula perdida na grade, amaldiçoou a verdura, mas tampouco era ela, localizou um presunto vencido na gaveta, culpou sua distração, mas também não era ele.
O marido começou a desconfiar dos ralos. Inspecionou com as luvas amarelas os banheiros e a cozinha. Mexeu o fundo do lodo com o arame dos cabides, despejou Diabo Verde, e nenhum milagre fazia o azedume evaporar da residência.