Três dias cheios em Montevidéu e duas percepções: a cidade reflete a pujança econômica, social e cultural que têm reforçado a posição do Uruguai entre os lugares com melhor qualidade de vida no mundo; e Ricardo Darín é o cara e a cara do cinema latino-americano. A primeira impressão combina olhar de turista, dados estatísticos e relatos entusiasmados dos mais íntimos com o país vizinho. A segunda é um tanto óbvia para quem admira o ator argentino.
Darín é protagonista de Séptimo, thriller psicológico realizado em Buenos Aires pelo catalão Patxi Amezcua que estreou com pompa de blockbuster em Montevidéu dias atrás. O galã portenho estampa cartazes nas ruas, capas de revistas, anúncios de páginas inteiras nos jornais e circula por programas de TV. Quase nada de George Clooney e Sandra Bullock perdidos no espaço em Gravidade, outro recém-chegado às telas de lá.
A razão para esse frenesi está na presença magnética de Darín. Aos 56 anos, ele tornou-se um gênero cinematográfico em si. Com Darín em cena, um filme ruim perece melhor, e um filme ótimo vira excelente. Em Séptimo, o ator vive (mais uma vez) um advogado que costuma fazer uma brincadeira com o casal de filhos pequenos quando os busca no apartamento da ex-mulher: ver quem chega primeiro ao térreo - ele, pelo elevador, ou as crianças, pelas escadas. Um dia, seus chicos desaparecem no percurso, dando início à jornada do pai desesperado por entre apartamentos de moradores suspeitos.
As crítica ao filme, mesmo as menos entusiasmadas, em razão das situações previsíveis e incongruentes do roteiro, destacam o quanto Darín está bem, o que eleva a média da avaliação.
Esse fenômeno de empatia se repete no Brasil, apesar da distância idiomática. Recente pesquisa da historiadora e produtora de cinema Ana Luiza Beraba sobre a participação dos filmes latino e ibero-americanos no mercado nacional entre 2001 e 2012, publicada pelo Filme B, confirma que Darín é uma "marca" que tem como rival apenas o espanhol Pedro Almodóvar. Dos 10 longas com esse perfil mais vistos no Brasil no período, cinco são de Almodóvar. E três são estrelados por Darín: O Segredo dos seus Olhos (328,5 mil espectadores), O Filho da Noiva (327,7 mil) e Um Conto Chinês (266,6 mil), sétimo, oitavo e nono na lista - Diários de Motocicleta, produção argentina dirigida pelo brasileiro Walter Salles, lidera com 939,2 mil.
Voltando a Montevidéu. O fato de uma cidade tão próxima e com características que permitem um espelhamento com Porto Alegre parecer estar degraus acima na escala de civilização - em quesitos como limpeza, segurança, trânsito, mobilidade urbana, conservação e revitalização de zonas históricas, obras que andam sem provocar caos e interação da população com sua orla - desperta a inveja e a esperança de um dia chegarmos lá. Mas, pelo jeito, vai demorar.
Confira o trailer de Séptimo, que anda não tem previsão de estreia no Brasil.