Kim Chae-young vai ao curso cinco vezes por semana e fica até tarde da noite. Porém, ao contrário da maioria dos jovens sul-coreanos que passam horas em escolas especiais para melhorar o desempenho em inglês e matemática, ela estuda passos de dança e aprende letras engraçadinhas.
- Quero me tornar um ícone do K-pop, como Psy. Todas as horas que passo aqui são meu investimento nesse sonho - afirmou Chae-young, de 13 anos, referindo-se ao rapper coreano do vídeo viral "Gangnam Style".
Nos últimos quatro anos ela praticou os passos de hip-hop na Def Dance Skool, em Seoul, uma das milhares de escolas do tipo na Coreia do Sul. Muito embora não exista um número oficial do total de escolas que ensinam crianças e adolescentes a se tornarem ídolos pop, autoridades do setor concordam que esse tipo de curso está em ascensão. Até mesmo escolas particulares tradicionais de música e dança - mais acostumadas a ensinar Bach e balé - mudaram os currículos para aproveitar a onda pop.
Elas estão respondendo a uma demanda crescente. Em uma pesquisa feita pelo Instituto Coreano de Educação e Treinamento Vocacional no fim do ano passado, artistas, professores e médicos eram as escolhas mais populares para o futuro entre estudantes primários e secundários - algo muito diferente do passado, quando o entretenimento era considerado uma profissão inferior e seus praticantes recebiam apelidos jocosos como "tantara". Agora, na faculdade, a graduação em música popular - conhecida no país como "música prática" - é uma das mais concorridas.
- Há onze anos, quando abri a escola, os pais achavam que só delinquentes juvenis vinham para cá. A atitude dos pais mudou - afirmou Yang Sun-kyu, diretor Def Dance Skool, no bairro de Gangnam.
Isso acontece, em grande parte, porque seus filhos têm mais escolhas de carreira. O jogador de golfe Se Ri Pak dominou o último torneio da LPGA, e a patinadora artística Kim Yu-na faturou o ouro olímpico. Então surgiu Park Jae-sang, também conhecido como Psy, com seus passos de dança envolventes e divertidos em "Gangnam Style" e letras que ironizam a estrutura social rígida da Coreia do Sul.
Em uma noite recente, Chae-young e outros adolescentes suados davam voltas e saltos, praticando seus passos de hip-hop em frente a paredes de espelho, enquanto os instrutores batiam palmas e gritavam. Mais tarde, em uma sala de gravação no andar de cima, a jovem ensaiava "Rolling in the Deep", de Adele, incansavelmente, enquanto a professora a advertia.
Com o slogan "Cultivando a próxima geração de artistas K-pop", a Def Dance Skool dá aulas para mil alunos atualmente (em 2006 eram cerca de 400). Os valores variam, mas geralmente os cursos custam em torno de US$ 135 por mês por aulas duas ou três noites por semana. Esse aproximadamente o mesmo valor que as escolas de reforço tradicionais, conhecidas como hagwon, cobram por seus currículos mais acadêmicos.
Quase metade dos alunos da Def Dance Skool que entrar em uma das agências de K-pop da Coreia do Sul, que recrutam e treinam jovens talentos para colocá-los em bandas só de meninos ou meninas.
Alguns desses "grupos de ídolos" sul-coreanos, incluindo o Girls' Generation, o Super Junior e o Big Bang, produzem videoclipes que geram milhões de acessos no YouTube. Fãs da Ásia toda e de outros continentes fazem verdadeiras peregrinações até a Coreia do Sul para participar dos lançamentos de discos, de shows e cerimônias de premiação, ou apenas para passear pelo bairro de Gangnam, famoso pelos bares caros, as butiques chiques e as clínicas de cirurgia plástica.
O faturamento do K-pop tem aumentado. As vendas totais das três principais agências de K-pop da Coreia do Sul - SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment - passaram de 106,6 bilhões de wons em 2009, a 362,9 bilhões de wons (cerca de US$ 326 milhões) no ano passado, sendo que a maior parte do faturamento veio de fora do país.
Os rostos do K-pop são utilizados com frequência nas propagandas e comerciais de TV das principais marcas sul-coreanas e o Psy empresta o rosto para uma série de produtos, da cerveja Hite a refrigeradores Samsung, passando por uma linha de cosméticos para homens conhecida como Man's Balm.
- Na minha época, pegar pesado nos estudos era tudo o que importava, mas agora temos outras opções para nossos filhos - afirmou Lee Byeong-hwa, um construtor de 48 anos cuja filha de 11, Kim En-jae, sonha com uma carreira como estrela K-pop.
Recentemente, Lee e En-jae se juntaram a milhares de pessoas no estádio Incheon, a oeste de Seoul. Quase todos eram adolescentes ou tinham 20 e poucos anos e todos vestiam uma roupa especial.
Eles estavam entre os 2 milhões de concorrentes que tentavam aparecer na quinta temporada de "Superstar K", a versão nacional de "American Idol". Além da Coreia do Sul, foram realizadas audiências nos Estados Unidos e no Canadá. Esse é um dos diversos programas de TV que caçam artistas K-pop e que se tornaram imãs para aspirantes a artistas como En-jae.
Abraçada a um violão, En-jae observava com atenção os concorrentes alinhados em frente às 25 tendas retangulares brancas no chão do estádio. Ao fim, o grupo se resumiria a cem artistas individuais e grupos para a competição de três meses do "Superstar K".
Para Woo Ji-won, aluna de 18 anos do último ano do ensino médio, esse é o terceiro ano seguido em que ela tenta ser aprovada na audição.
- Meus colegas estudam como loucos para passarem na faculdade. Mas eu vou para uma escola de K-pop sete noites por semana. Chego em casa depois das 22h00 e assisto vídeos de K-pop no YouTube por horas - afirmou.
Os críticos do K-pop afirmam que a Coreia do Sul produz apresentações pasteurizadas: danças perfeitamente sincronizadas, músicas pegajosas, roupas coloridas e artistas bem treinados, mas perfeitamente esquecíveis, frequentemente produzidos nas clínicas de cirurgia plástica do distrito de Gangnam. Segundo eles, Psy é uma anomalia.
Hong Dae-kwang, que ficou em quarto lugar no concurso "Superstar K" do ano passado compartilha a mesma crítica.
- Todos eles cantam, dançam e se apresentam bem, como máquinas bem feitas - afirmou.
Ainda assim, Hong, de 28 anos, reconheceu que o boom do K-pop ajudou a mudar sua vida. Antes de se destacar na competição, ele dividia um apartamento de um quarto com um amigo, entregava pizzas e se apresentava nas ruas para viver. Agora ele é chamado constantemente para se apresentar em programas de rádio, vive em um apartamento de três quartos e tem um empresário.
- O K-pop abriu as portas para muitas pessoas como eu - afirmou Hong, cujo álbum de estreia ficou alguns dias no topo da parada de downloads do país em abril.