Um dos mais respeitados nomes do cinema e da teledramaturgia no Brasil, Jorge Furtado é mestre em fazer rir e pensar ao mesmo tempo. Do curta-metragem internacionalmente premiado Ilha das Flores (1989) à divertida e inteligente paródia Saneamento Básico, o Filme (2007), o diretor e roteirista construiu uma sólida trajetória na qual a comédia ocupa um papel central. Aos 54 anos e com quase três décadas de carreira, Furtado enfim se arrisca no drama com o longa-metragem Beleza. Dividindo-se entre projetos para o cinema e a TV, o realizador está tocando dois filmes ao mesmo tempo:

- O Mercado de Notícias fica pronto agora em outubro, e espero estreá-lo no começo do ano que vem, enquanto Beleza deve ficar pronto em abril.
Zero Hora - Beleza é seu primeiro drama para o cinema. É muito diferente de dirigir comédia?
Jorge Furtado - Totalmente diferente. O tempo da cena é outro. Estou descobrindo isso fazendo o filme. No drama, o silêncio é muito mais expressivo, o olhar das pessoas, o caminhar, a pausa na fala. Na comédia, tudo tende a ser rápido, ligeiro. O humor sempre tem que ser ágil, inteligente. O drama tem significações entre as pausas que vou descobrindo vendo a cena. Quando filmei uma cena do João fotografando a Maria, e ele olhava para ela, ela olhava para ele, o Vladimir (Brichta, o protagonista) foi aumentando cada vez mais as pausas... Aquilo foi ficando interessante, porque o tempo de espera é muito rico no drama.
ZH - Como surgiu a ideia de Beleza?
Furtado - Essa ideia nasceu há muito tempo, quando li uma matéria em um jornal inglês dizendo que o Rio Grande do Sul é o grande berço mundial de modelos: das 20 maiores modelos brasileiras de todos os tempos, 12 são gaúchas. Elas vêm dessa região aqui da Serra e do Interior, uma mistura de europeias com brasileiras. No filme, o João é um grande fotógrafo de moda que está em crise, que agrediu uma modelo e acabou caindo no ostracismo. O que sobra para ele é voltar ao começo e tentar achar uma modelo no interior do Estado.
ZH - E o personagem de Vladimir Brichta, o fotógrafo João, acaba se apaixonando pela mãe da modelo, certo?
Furtado - Pois é, a mãe é vivida pela Adriana Esteves, que é casada com o personagem vivido pelo Francisco Cuoco. Há uma diferença de idade enorme entre eles, de 30 anos. O miolo do filme é essa relação entre o fotógrafo, a modelo, a mãe e o pai.
ZH - O processo de seleção para encontrar a atriz que interpretaria a modelo foi semelhante aos testes para achar novos rostos para a moda?
Furtado - Foi um pouco diferente. Era um teste de beleza, claro, mas também de interpretação. Abrimos inscrições para meninas, e, de 350, escolhemos 80, que fizeram testes de atuação. Dessas, chegamos até a Vitória Strada, que, além de bonita, tem talento também para interpretar. A Mirna Spritzer (atriz) fez um trabalho de atuação com ela, e Vitória cresceu muito nesse processo. Agora, já estou muito tranquilo durante as filmagens, ela contracena com os outros atores e inclusive improvisa. A Vitória é uma grande descoberta.
ZH - Além dos filmes Beleza e O Mercado de Notícias, você também está preparando as gravações do seriado Doce de Mãe, na Globo.
Furtado - Doce de Mãe foi um especial que eu e a Ana Luiza Azevedo fizemos no ano passado, com a Fernanda Montenegro e um elenco incrível. Foi um teste para uma minissérie que deu supercerto, com uma ótima audiência. A Fernanda inclusive está concorrendo ao Emmy pelo papel, agora em novembro, em Nova York. A série foi aprovada, e começamos a filmar em alguns dias. Serão 14 episódios, exibidos às sextas-feiras, com as histórias de Dona Picucha e seus filhos. E aí é comédia mesmo!