Os acervos do jornalista e bibliófilo Mario de Almeida Lima e do doutor em Letras Flávio Loureiro Chaves, que agora compõem o Memorial Erico Verissimo, representam muito mais do que o conjunto de diferentes documentos que formam ou remetem à obra do escritor gaúcho. Possibilitam que a literatura de Erico passe de geração para geração.
- Infelizmente, a literatura vai se perdendo com o passar do tempo - observa o editor Paulo Lima, filho de Mario de Almeida Lima, morto em 2003.
- Como o Brasil é um país sem memória, há certo descaso em relação a figuras e a conquistas do passado. Um acervo respeita as conquistas do passado e tenta entendê-las - afirma Márcia Ivana de Lima e Silva, doutora em Letras e coordenadora do projeto do Memorial Erico Verissimo.
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Acervos como este de Erico que passam a ser disponibilizados para a sociedade têm o objetivo de preservar a memória e também de possibilitar a compreensão do trabalho do autor, do contexto da sua criação e como tal trabalho foi adquirindo importância com o passar dos anos.
- No caso específico de Erico Verissimo, é possível enxergar a amplitude de sua obra. Ele escreve O Tempo e o Vento, que pouco se confunde com a história do Rio Grande do Sul, pouco se confunde com a identidade do gaúcho. Mas é também o escritor de Noite, uma novela urbana, ou que faz As Aventuras de Tibicuera, tratando da história do Brasil. Que escreve textos importantes com forte relação política, como O Senhor Embaixador e Incidente em Antares - diz Márcia Ivana.
Flávio Loureiro Chaves também destaca outro aspecto importante do conjunto de documentos que agora é compartilhado com o público:
- O acervo não é somente o retrato da obra. Ele também oferece o perfil do homem. É o caso dos originais de Fantoches, que Erico relê 40 anos depois de sua publicação e comenta, na marginalia, o livro feito. Quando se lê as anotações nas margens, além de se ter o escritor, tem-se também a manifestação do homem.
Outros originais e documentos do escritor gaúcho formam o Acervo Literário Erico Verissimo (ALEV), sob a responsabilidade da família do autor, e foram encaminhados em 2009 para o Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.
Testemunho de leitura
Além dos originais, imagens e correspondências, o Memorial Erico Verissimo apresenta importante documentação sobre muito do que se escreveu a respeito da vida e da obra do escritor. São aproximadamente 1,2 mil itens, entre notícias, entrevistas, reportagens, crônicas, ensaios e teses acadêmicas, sob as mais diferentes óticas, que tratam da herança deixada pelo "contador de histórias", como Erico humildemente se definia. Esta fortuna crítica foi elaborada por Flávio Loureiro Chaves, doutor em Letras e responsável por parte do acervo que agora está disponibilizado no Centro de Cultura CEEE Erico Verissimo. Os documentos datam de 1932 a 2005.
- A fortuna crítica é importante porque reflete a recepção de toda a obra pela sociedade. Por isso, precisa ser considerada em toda a sua amplitude, e não somente as teses acadêmicas e os ensaios - ensina Flávio.
Márcia Ivana de Lima e Silva, doutora em Letras e coordenadora do projeto do Memorial Erico Verissimo, reforça o mérito da fortuna crítica, do conjunto de críticas sobre a obra, para avalizar o conjunto:
- Em primeiro lugar, é um testemunho de leitura. Em segundo, dá legitimação à obra.
Os itens que compõem a fortuna crítica que integra o Memorial Erico Verissimo estão digitalizados e podem ser acessados no site www.cccev.com.br . Alguns desses originais estão expostos no sexto andar do prédio.