Leio na Folha de São Paulo sobre a revolta dos moradores do entorno do parque do Ibirapuera, contrários à proposta do prefeito Fernando Haddad de abrir o parque durante as 24 horas nos finais de semana. Segundo o prefeito, a intenção é que todos os parques públicos da capital paulista fiquem abertos ininterruptamente nas madrugadas de sábado para domingo. Obviamente, os primeiros revoltados contra a decisão foram os endinheirados, vizinhos ao parque, acusando a decisão do prefeito de ser populista e perigosa. Segundo a elite paulistana, a cidade não possui segurança suficiente para permitir a autonomia da população em usufruir dos seus espaços públicos.
Outro importante parque da capital paulista, o Villa-Lobos, na região do Alto de Pinheiros, costuma fechar os seus portões às sete horas da noite. Fechar um parque público praticamente no mesmo horário em que se encerra o expediente de trabalho de grande parte da população demonstra o descompasso entre lazer e indivíduo. Lembro da primeira vez em que, no final de um dia de muito sol, corri até o Villa-Lobos para aproveitar o resto do calor e deparei com os portões fechados. Investigando sobre os motivos que levam a administração a fechar o parque tão cedo, descubro que a decisão partiu das associações dos moradores, que optaram por proibir o acesso à área de lazer em nome da tranquilidade da vizinhança. Munidos de mansões equipadas com fartos jardins, os endinheirados paulistanos cerceiam as ínfimas possibilidades de lazer gratuito que a cidade ainda oferece.
Traço esse breve e triste panorama sobre a situação dos parques públicos na maior cidade do Brasil para chamar a atenção sobre Porto Alegre e suas áreas de lazer livres da falsa segurança das cercas. Se os parques do Ibirapuera, Villa-Lobos e Aclimação são áreas fechadas, a Redenção, o Marinha e o Parcão são zonas abertas. São espaços livres para a cidade. Eventos como a Serenata Iluminada, uma noite em que a população invade a Redenção com lanternas e instrumentos musicais, não seriam possíveis nos parques paulistanos.
Conservar seus parques abertos é uma prova de confiança que a cidade oferece à população. É preciso confiar no outro para se desfazer das próprias blindagens. Há os que ainda acreditam que cercas, muros e choques são capazes de resolver os problemas da criminalidade. As zonas no entorno dos parques cercados, em São Paulo, não menos perigosas do que as zonas no entorno dos parques abertos, em Porto Alegre, comprovam que proibir o livre acesso da população às áreas de lazer não torna uma cidade mais segura.