O que o futuro reserva para as crianças que ganham babadores do Nirvana ou macacões dos Ramones? Essa é uma questão que me intriga há alguns anos. Se nos guiarmos pela lógica de que pais caretas geram filhos rebeldes, e vice-versa, é de se esperar que esses bebês precocemente descolados estejam ouvindo Bach e usando camisa polo assim que puderem decidir por si mesmos. Atualizando o conceito com as especificidades da época, teríamos algo como: pais cicloativistas veganos, filho com MBA em Finanças. Acho possível.
De qualquer maneira, creio que essas criaturinhas ninadas ao som de Rolling Stones para bebês (existem álbuns assim, e o arranjos envolvem basicamente xilofones) ainda não chegaram à adolescência, o que nos mantêm no terreno incerto das suposições. Essa é, em outras palavras, a primeira geração de bebês com roupas de caveira e tênis Converse.
Pelo menos desde os anos 1980, fenômenos de contracultura têm suas características capturadas e incorporadas pelo mercado. Segundo os sociólogos Robert Goldman e Stephen Papson, "não temos ideia do que seriam o punk, o grunge ou o hip hop como movimentos sociais e culturais, se eles não fossem explorados comercialmente". Verdade. Em todo o caso, era uma época em que ainda não se vendiam calças jeans com rasgos pré-fabricados, e as pulseiras de spikes tampouco enfeitavam os pulsos dos manequins da Renner. Hoje, o cool não consegue ficar sem ser incomodado nem por meio segundo; o mercado entra de sola e trata de esvaziá-lo de sentido. Temos, além disso, as redes sociais, que de certa forma garantem um processo constante de ridicularização das minorias estilosas. Basta olharmos para o que aconteceu, nessa ordem, com os emos e os hipsters. Ninguém em sã consciência gostaria de ser rotulado como emo ou hipster hoje em dia.
Talvez eu esteja sendo purista demais. Woodstock seria ruim se tivesse uma barraca vendendo produtos licenciados? Algumas crianças, que obviamente estariam na casa dos avós enquanto a História acontecia, teriam recebido uma camiseta com a frase "Mom and dad went to Woodstock, and all I got was this lousy t-shirt" ("Mamãe e papai foram para Woodstock, e só o que eu ganhei foi essa camiseta idiota"). Depois disso, só restaria aprender oboé.