Em meio às conferências e aos encontros com autores e personalidades ligadas à leitura, um projeto a ser lançado a partir desta quarta-feira, na programação da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), deve chamar a atenção pelo o que representa para o mercado literário. Chama-se E-Galáxia. É, na prática, uma plataforma de autopublicação. Mas com a ambição de mercado de uma grande editora nos tempos do e-book.
Para entender o projeto, é interessante conhecer seu trio de idealizadores, a designer e publicitária Mika Matsuzake, o pesquisador na área de história cultural Tiago Ferro e o executivo do mercado editorial Antonio Carlos Espilotro. De São Paulo, há mais de 10 anos eles prestam serviços para algumas das principais casas editoriais do país. Resolveram tirar um intermediário do caminho e oferecer seus préstimos diretamente para os autores.
- Sempre fomos free-lancers - explica Tiago Ferro. - Como o mercado está passando por uma mudança importante, resolvemos falar diretamente com os escritores. Mas a ideia é manter a qualidade e a competitividade do livro, ou seja, lançá-lo como se ele estivesse sendo lançado por uma grande editora.
A mudança referida diz respeito à venda de e-books, que aumentou 900% no Brasil entre dezembro de 2011 e o mesmo mês de 2012 - graças, por exemplo, às entradas da Apple e da Amazon no mercado nacional. A E-Galáxia garante a distribuição nessas lojas virtuais, desde que o preço de cada livro não passe, inicialmente, de R$ 10.
- A verdade é que não sabemos exatamente que tipo de negócio montamos - diz Ferro, ao mesmo tempo em que informa que o trio despendeu R$ 500 mil dos próprios bolsos no projeto. - Não somos uma editora. Não arcamos com os custos de cada livro, isso é com o próprio autor. E não temos filtro, ou uma linha editorial. Apenas disponibilizamos uma cartela de profissionais nos quais confiamos. Cada responsável pela sua publicação escolhe com qual deles vai trabalhar. E paga o seu livro. Nós pagamos para fazer o sistema E-Galáxia funcionar, levando esse livro até onde ele pode ser adquirido pelos leitores.
Trata-se de um "espaço digital especializado em e-books", Ferro conclui, após a insistência da reportagem em definir o serviço que ele e seus parceiros estão disponibilizando. Pode-se dizer que tal espaço tem sede - virtual, como não poderia deixar de ser: www.e-galaxia.com.br. Aonde vai levar é uma incógnita, já que o mercado desse tipo de publicação, feita para ler na tela do computador, ou do tablet, é absolutamente incipiente.
O retorno imediato será tímido: 10% daquilo que for obtido com cada livro é revertido ao E-Galáxia. Exceto isso e a taxa cobrada pela loja na qual a obra for vendida, que é variável de um estabelecimento para o outro, o dinheiro arrecadado fica todo com o autor - que também mantém os direitos autorais, podendo, se quiser, posteriormente, cedê-los a uma editora convencional para a publicação em papel.
E-book mais barato do que revistas de papel
Que tipo de autor deve aderir à E-Galáxia? Os três idealizadores do projeto não têm certeza. Convidaram nomes conhecidos do mercado nacional para, com eles, darem início às operações. São exemplos Ricardo Lisias e Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano Ramos, o homenageado da Flip, que está lançando Montado no Ponteiro Grande do Relógio, seu primeiro volume voltado ao público adulto, pela E-Galáxia. Devem, no entanto, atingir também - e sobretudo, talvez - jovens escritores.
- Parece-me que se trata do primeiro "lugar" em que se pensa o e-book desvinculado do livro em papel, porém, com qualidade editorial à altura das melhores edições do livro em papel - define Alberto Villas, autor de O Mundo Acabou e Pequeno Dicionário da Língua Morta, ambos editados pela Globo.
Villas foi o primeiro a publicar pela E-Galáxia - o livro de crônicas The Book Is on the Tablet, com lançamento na Flip.
- Sou fanático pelo papel. O fato de escrever livros de memórias já deixa isso claro. Mas, colaborando com o site da Carta Capital, descobri que a repercussão de uma crônica, online, pode ser enorme. Além disso, este meu e-book vai custar R$ 4,99. Isso é metade de qualquer revista em papel. Embora minha ideia seja seguir publicando livros convencionais, fiquei motivado a experimentar a E-Galáxia - afirma Villas.
Tiago Ferro resume, nesta relação entre o preço de um livro digital e uma publicação convencional, a confiança dos idealizadores do E-Galáxia no e-book como um bom negócio:
- A nova classe média tem afirmado seu potencial de consumo, comprando smartphones e tablets. O e-book é um produto ao seu alcance à medida que é barato e pode ser acessado por meio desses equipamentos eletrônicos. E é, fundamentalmente, muito acessível. Quando as pessoas se derem conta de que podem comprar o novo livro de um grande autor brasileiro por R$ 5, nós acreditamos que vão comprá-lo.