Deu no site da revista Meio e Mensagem, uma respeitada publicação voltada ao mercado publicitário. Está em análise, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei (5921/2001) que regulamenta a publicidade infantil e obriga que as marcas utilizem apenas modelos tradicionais de núcleo familiar. Pai, mãe e filhos. Salvador Zimbaldi, do PDT paulista, é o autor da norma que afirma no parágrafo 4º do artigo 6º do projeto: "a família é a base da sociedade e, quando exibida em horário comercial, institucional ou governamental, deverá observar a unidade familiar prevista no artigo 226, §3º da Constituição Federal". Se a lei for aprovada, somente famílias capitaneadas por um pai e uma mãe poderão servir de modelo comercial. Pais separados, viúvos, viúvas, mães solteiras, pais gays... ficam automaticamente excluídos do modelo comercial de família. O PDT paulista, ao acenar com tal proposta, não apenas nega as quase infinitas possibilidades de agrupamento familiar, como também instaura um ideal cada vez mais inatingível de felicidade.
Mas, afinal de contas, o que quer Salvador Zimbaldi? Me pergunto se tal projeto de lei tem por finalidade castrar a família do corpo fora da ordem, se é que existe alguma, ou limitar o poder da televisão, criando regras mirabolantes para a publicidade? Em seu relatório, Zimbaldi afirma que "hoje, os meios de comunicação, como a televisão, representam cada vez mais um relevante papel na formação, não somente de conhecimento, como também moral das crianças".
Mas Zimbaldi está errado. A televisão influencia cada vez menos tanto a criança quanto o adulto. É a internet, e somente ela, o espaço de liberdade. E é justamente a internet, essa teia sem controle e sem censura, que dissemina o novo e precipita ação. Pouco importa se a televisão seguir aprisionada em um mundo cada vez mais distante da realidade. Os índices do Ibope despencam, ver novela nunca foi tão cafona, os telejornais perdem a credibilidade, a revolução não será televisionada. A mídia bancada por pesados anunciantes agoniza. O futuro é online.
Novamente estamos diante de uma proposta castradora da liberdade humana. Limitadora do corpo e das múltiplas possibilidades de felicidade, esse projeto de lei é mais um dos muitos que tentam impor uma moral cada vez mais utópica ao povo brasileiro. Como cidadão, me enoja saber que profissionais recebedores de salários hediondos gastam o seu tempo útil desenvolvendo estratégias que buscam não a evolução dos direitos humanos, mas o retrocesso social e a aniquilação das vontades individuais.