Em 1941, o jovem regente de música coral e de ópera Rafael Schächter foi enviado para o campo nazista de Terezin, na atual República Checa, onde estavam presos diversos professores, artistas e escritores.
Em meio à rotina de trabalho forçado a que ele e outros eram submetidos, Schächter orientou um grupo de 150 prisioneiros a "cantar para os nazistas aquilo que não podiam dizer", nas palavras do maestro.
Isso só foi possível porque ele escondia consigo uma partitura do Réquiem, de Giuseppe Verdi (1813 - 1901), compositor italiano cujo bicentenário de nascimento é celebrado em 2013. A obra foi apresentada pelos prisioneiros 16 vezes, a última delas em 23 de junho de 1944, quando restavam apenas 60 integrantes do coral - os demais haviam sido deportados para lugares como Auschwitz, para onde o próprio maestro seria enviado. A derradeira apresentação teve como espectadores oficiais da SS - o exército nazista - e representantes da Cruz Vermelha, que visitavam o local para verificar as condições dos prisioneiros. No filme Defiant Requiem (2012), de Doug Shultz, que conta essa história, a sobrevivente Zdenka Fantlova afirma: "Realizar uma performance não era entretenimento. Era uma luta pela vida".
Esta partitura carregada de história será apresentada pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) nesta terça-feira, às 20h30min, na Igreja da Ressurreição (Nilo Peçanha, 1.521), do Colégio Anchieta, em Porto Alegre, com entrada franca. Participarão o Coro Sinfônico da Ospa e os solistas Isabelle Sabrié (soprano), Mere Oliveira (mezzo-soprano), Paulo Mandarino (tenor) e Daniel Germano (baixo). A regência será do maestro Shinik Hahm, sul-coreano radicado nos Estados Unidos.
O Réquiem estreou em Milão, em 1874, no primeiro aniversário de morte do poeta e romancista Alessandro Manzoni (1785 - 1873). Provando que a obra adquire novos significados a cada apresentação, o programa desta terça à noite é especial para o maestro Shinik Hahm: ocorre na data em que começou a Guerra da Coreia,em 1950, com duração de quase três anos.
- Muitas pessoas pagaram pela guerra com suas vidas. Gostaria de dedicar este Réquiem àqueles que morreram pela paz - diz o maestro.
Dezessete óperas em 20 anos
O Réquiem é uma das poucas obras de Giuseppe Verdi (1813 - 1901) fora do domínio da ópera. O compositor italiano é mais conhecido por trabalhos como Rigoletto (1851), Il Trovatore (1853), La Traviata (1853), Aida (1871), Otello (1887) e Falstaff (1893).
Seus primeiros professores foram organistas da igreja. Os estudos foram financiados pelo comerciante Antonio Barezzi. Depois, estudou com um professor particular. Sua primeira grande ópera foi Nabucco (1842), que o levou a ser comparado aos grandes, como Rossini, Bellini e Donizetti.
Em 20 anos, Verdi compôs nada menos do que 17 óperas. Nascido em Roncole, perto de Busseto, no norte da Itália, o compositor morreu em Milão. Estiveram em seu funeral 20 mil pessoas, que cantaram a ária Va, Pensiero, de Nabucco.