Para além de qualquer discussão filosófica sobre qual o conceito de normalidade sinalizado pela quinta edição do DSM, há também uma questão prática. Como um manual de influência internacional, o DSM-5 é adotado como referência por profissionais de vários países, inclusive o Brasil, o que facilita a adoção de suas categorias diagnósticas em tratamentos ao redor do mundo todo.
- É uma classificação que tem bastante influência em outros países, não apenas nos Estados Unidos, e é bastante consultada nos meios psiquiátricos, brasileiros, inclusive. - diz Celso Gutfreind.
Esta quinta edição sai para substituir a que foi lançada em 2000. A versão mais recente é a quinta desde a criação do dicionário, em 1952. Essa própria característica de atualização constante ajuda a explicar a popularidade do manual ao redor do mundo.
- O que ocorre é que temos no Brasil uma associação psiquiátrica, mas seus parâmetros não são atualizados com tanta frequência quanto o DSM, o que faz com que muitos profissionais busquem atualização no DSM, que também orienta muitas pesquisas internacionais - informa Sergio Eduardo Nick, que lembra que o manual influencia até mesmo os critérios da Organização Mundial de Saúde.
O resultado é que, em um horizonte próximo, por mais críticas que venha recebendo, o DSM deve ter um impacto direto no número de casos de transtornos diagnosticados e nos tratamentos a eles aplicados. O número de casos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que já vem crescendo, deve aumentar ainda mais.
- Em alguns diagnósticos, vai diminuir a identificação dos casos, em outros, vai aumentar. Depressão, a princípío, não vai mudar muito. Bipolar e TDAH, tende a aumentar o número de casos identificados, e alguns quadros de ansiedade devem diminuir porque "ansiedade" é muito genérico, e o dicionário tentou compactar alguns diagnósticos - diz Rodrigo Machado-Vieira.
Se, no entanto, por um lado, a perspectiva é de um novo salto no número de diagnósticos, em outros campos da psiquiatria os novos critérios podem ter um efeito contrário. De acordo com Machado-Vieira, em alguns casos, como na identificação de pacientes maníacos, os diagnósticos devem diminuir.
- Mania é o oposto da depressão na condição bipolar, é a fase acelerada. O DSM-5 está propondo que o diagnóstico de mania tenha aumento extremo de atividade e energia como critério primário, o que antes era secundário. Pelos dados que a gente tem, de mais de 5 mil pacientes, essa mudança tornará o diagnóstico mais preciso, e o número de casos deve diminuir - opina.
DSM-5
Diagnósticos influenciados pelo manual devem crescer
Número de casos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade tendenm a aumentar ainda mais
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