É a própria liberiana Leymah Gbowee quem conta a história em sua autobiografia. Oriunda da etnia Kpellé, ela era chamada de "vermelha" quando pequena, por sua pele mais clara do que a dos demais africanos nativos. Desde que se tornou conhecida como militante pacifista, ela ganhou outro apelido no cenário internacional: "guerreira da paz". Em 09 de setembro, Leymah faz conferência no ciclo Fronteiras do Pensamento de Porto Alegre.
Em 2003, quando a Libéria vivia a segunda guerra civil no período de uma década, ela chamou as mulheres a orar pela paz, sem distinção de religião e frequentemente vestidas de branco. O movimento foi crescendo durante o conflito, até culminar em uma greve de sexo, obrigando o regime de Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz. Leymah foi agraciada com o Nobel da Paz em 2011, ao lado de sua compatriota e presidente Ellen Johnson Sirlead e da iemenita Tawakkul Karman. O motivo: sua militância pacifista que contribuiu para acabar com as guerras civis que devastaram seu país.
A pesquisadora Joana Bosak, doutora em Literatura Comparada e professora de Teorias, Crítica e Historiografia da Arte na UFRGS, aproxima o movimento liderado por Leymah daquele descrito pelo dramaturgo grego Aristófanes em sua obra Lisístrata, escrita no no ano 411 a. C. Na peça, as mulheres, cansadas da guerra fratricida entre Atenas e Esparta, decidem iniciar uma greve do sexo até o fim dos combates.
- Estabelecida e paz entre as duas cidades, graças às mulheres e sua engenhosidade, tudo volta ao normal. O detalhe fundamental: a peça é uma comédia - lembra a pesquisadora. A greve de sexo liberada em 2003 por Leymah Gbowee, quando tinha 30 anos e trabalhava como assistente social, uniu mulheres de diferentes etnias e religiões e teve como consequência a queda de Charles Taylor, ex-líder de guerrilha convertido em presidente desde 1997.
- Cansada de ver crianças sendo drogadas e lutando na guerra civil, Leymah, que hoje é mãe de seis, decidiu que as mães eram as únicas a poderem mudar a situação de seu país. Ela disse no documentário sobre sua vida Pray the Devil Back to Hell: "a única maneira de mudar as coisas, do mal para o bem, era fazer com que as mulheres e mães dessas crianças se levantassem e colocassem os filhos no bom caminho". Para ela, "nada deveria levar uma pessoa a fazer o que foi feito com as crianças da Libéria, drogadas, armadas, convertidas em máquinas de morte" - analisa Joana.
Aos 41 anos, ela vive desde 2005 em Acra, Gana, com seus filhos, Leymah transformou a proteção às crianças em uma de suas grandes bandeiras. Lançou a autobiografia Guerreiras da Paz: Como a Solidariedade, a Fé e o Sexo Mudaram uma Nação em Guerra. No livro, ela testemunha que sua luta foi outro tipo de guerra, porque segundo ela, "trata-se de um exército de mulheres vestidas de branco, que se ergueram quando ninguém queria fazê-lo, sem medo, porque as piores coisas imagináveis já haviam ocorrido conosco".
Ela sofreu na infância com a rubéola, a malária e a cólera. Sobrevivente de um ambiente mais do que inóspito, especializou-se, após o movimento na Libéria, em enfermagem.Vem trabalhando ativamente na defesa dos direitos humanos e das mulheres, independentemente de casta, etnia ou religião, e recebeu distinções e prêmios ao redor do mundo, incluindo o Nobel e, em 2009, o John F. Kennedy Profile in Courage Award e o GruberPrize for Womens Rights.
Leymah Gbowee no Fronteiras do Pensamento
30 de setembro de 2013, às 19h30, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 - Porto Alegre - RS)
Informações sobre passaportes de entrada no site fronteiras.com