O Segundo Caderno pediu para o cineasta e ex-vocalista e baterista do Replicantes, Carlos Gerbase, falar sobre a importância do Garagem Hermética e o impacto de seu fechamento na cena cultural de Porto Alegre. Confira.
"Tenho fortes e belas memórias dos dois Garagem Hermética. O primeiro, aquele do Leo e do Ricardo, era muito mais que um bar e um local de shows. Era uma casa velha e labiríntica, com um dos piores banheiros da história do rock, cheia de arte nas paredes e artistas rastejando pelo chão.
Ali Os Replicantes fizeram shows memoráveis. Num deles, o piso de madeira à frente do palco ondulava como um mar revolto, enquanto malucos subiam nas caixas de som e se atiravam nas ondas, que pareciam prestes a engolir todos nós. Somos bem-aventurados sobreviventes do primeiro Garagem.
O segundo, depois da reforma, era uma casa de shows com um palco muito melhor e, com certeza, muito melhores condições de segurança. Ali também fiz shows memoráveis com os Replicantes, a uma temperatura não inferior a 45 graus. Lugar quente, em todos os sentidos.
Se o Garagem fechar, conforme o anunciado, o rock de Porto Alegre perde uma de suas mais importantes referências culturais. Não conheço as razões pra fechar (desconfio que estejam ligadas à segurança), mas conheço uma pra manter aberto, depois de sanar os eventuais problemas: o rock não é feito nem consumido em lugares perfeitos, limpos, higiênicos, com temperatura e pressão controladas e mesas com toalhas brancas.
O rock precisa de locais quentes e escuros, em que se tropeça numa garrafa de Jack Daniel's antes de subir no palco e em que se respira fundo antes de entrar no banheiro. O Garagem morreu? Longa vida ao Garagem! "
Carlos Gerbase, cineasta e ex-vocalista e baterista do Replicantes