O tema é recorrente na comédia e nos dramas lacrimosos, em geral com um elemento traumático ou fantástico servindo de estopim: a perda da memória e como esse hiato das lembranças interfere numa relação amorosa. Em cartaz a partir desta sexta-feira, o filme francês A Vida de Outra Mulher tem importantes diferenciais a seu favor, a começar pela presença de Juliette Binoche como protagonista.
Neste seu primeiro longa-metragem, a diretora (Sylvie Testud, atriz conhecida do cinema francês), adapta, também como corroteirista, o romance La Vie dune Autre, lançado em 2007 pela escritora Frédérique Deghelt.
Juliette é apresentada como Marie, jovem vivaz que está prestes a começar carreira numa grande corporação. Ao cruzar com Paul (Mathieu Kassovitz, também um prestigiado diretor), filho do futuro chefe, pinta uma paixão à primeira vista. No aniversário de 26 anos de Marie, eles passam a noite juntos.
Na manhã seguinte, Marie acorda e percebe algo estranho: seus cabelos estão curtos, deduz por fotografias que se casou com Paul e que eles têm um filho. Descobre que está em 2011 e completando 41 anos. Mas não lembra nada dos 15 anos passados entre seus dois aniversários. Aos poucos, ele entra na nova realidade: é uma milionária e temida executiva e está se divorciando de Paul.
O interessante em A Vida de Outra Mulher é o filme abrir mão de explicações - como justificar tudo pelo viés do trauma ou da fantasia citados. Ou seja, a vida de Marie agora é esta, ela que trate de se adaptar. Isso permite ver a situação como um possível espelho da crise conjugal, do passar do tempo que transforma uma relação naquele tipo de rotina em que mal se percebe a passagem do tempo. Quinze anos, assim, podem passar voando e deixar as boas lembranças no campo do parece que foi ontem.
A Vida de Outra Mulher transcorre em dois registros. No primeiro, o tom é mais burlesco, explorando o espanto de Marie com a nova rotina e com as notícias dos últimos 15 anos. A virada mais dramática se dá com a tentativa dela em reconquistar Paul.
Marie é um personagem e tanto para uma atriz como Juliette. Embora ela não pareça confortável na clave da comédia, sua performance na pegada dramática mostra, mais uma vez, o quanto ela é espetacular - como se vê também em Elles, que segue em cartaz na Capital.
Feitiço do tempo
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Marcelo Perrone
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