Nova York - Alexander Creswell nos contava sobre o dia em que quase se afogou enquanto era puxado por uma lancha e por um helicóptero. Depois disso, pintar a aquarela que mostrava o que aconteceu no dia 29 de abril do ano passado - um evento entre quatro paredes que não envolvia nem água, nem velocidade, e que aconteceu em menos de uma hora - deve ter sido uma tarefa fácil, não é?
- Não mesmo! - respondeu.
Creswell é um artista britânico com 38 aquarelas na Coleção Real, que também possui Rembrandts e Vermeers, além das joias da coroa - e que tem adquirido obras de arte desde a Idade Média. Isso é muito mais tempo do que o dia 29 de abril do ano passado.
Mas, afinal de contas, por que estamos falando tanto de 29 de abril? Para quem não se lembra de datas importantes na vida da família real britânica, 29 de abril do ano passado foi o dia do casamento do príncipe William e de Kate Middleton na abadia de Westminster.
O modelo feito por Creswell - na verdade, o rascunho final de um modelo de maiores proporções enviado aos recém-casados - está em exposição em Nova York, em uma mostra na Hirschl & Adler Galleries.
De volta a 29 de abril do ano passado. Para Creswell, esse foi um difícil dia de trabalho.
- Eu quase não consegui chegar lá por causa das multidões - afirmou, e ele havia saído mais cedo para chegar na hora.
Conforme soubemos, ele estava lá desenhando "duas horas antes e quatro horas depois". Creswell afirmou ter utilizado 25 páginas de seu caderno de rascunhos. O artista inclusive tomou "notas em aquarela" - desenhos coloridos - para que se lembrasse das cores do dia, quando pintasse a versão final em seu estúdio.
- Estava desenhando quando todos os convidados chegaram - afirmou. Quando a cerimônia terminou, afirmou, - estava desenhando sem olhar para o caderno. Era como se estivesse fazendo um download dos meus olhos. É preciso anotar tudo para não deixar passar nenhum detalhe.
O desenho foi bem analisado pelo pai do noivo. O príncipe Charles visitou o estúdio de Creswell - "não para avaliar a obra", afirmou o artista. Qual foi a reação do príncipe ao modelo em escala reduzida? "Sobrevivi para continuar pintando."
Na época, Creswell estava trabalhando no estúdio do pintor vitoriano George Frederic Watts, famoso pelas grandes cenas alegóricas e pela forma como foi descrito por G.K. Chesterton: - Ele pode não ter certeza de que foi bem sucedido, nem de que seja ótimo, bom, ou mesmo capaz: mas ele tem certeza de que está certo.
Creswell foi o primeiro pintor a trabalhar no estúdio de Watts, em Surrey, desde a morte do artista em 1904; a recepção na Hirschl & Adler Galleries homenageava a iniciativa da Watts Gallery para salvar a casa de Watts em Surrey.
Creswell gosta de aquarelas porque essa é considerada a forma mais difícil de arte. "Não se pode cometer erros" em uma aquarela, afirmou. "É impossível fazer correções."
Ele não realiza obras pequenas e delicadas: o modelo em escala reduzida do casamento real mede 56 por 76 centímetros, e a obra "Roman Forum", concluída em 2006, tem 2,7 metros de comprimento por 1,5 de altura.
- Estou ultrapassando os limites - afirmou.
O artista tem ligações com a família real há mais de 20 anos, mas afirmou que nunca foi apresentando a William ou Catherine, a duquesa de Cambridge. - Estivemos diversas vezes na mesma sala.
A família real e a Câmara dos Lordes encomendaram a ele a pintura do funeral da Rainha Mãe, após sua morte em 2002, e Creswell foi o artista oficial da viagem do príncipe Charles pela Europa Central em 1998.
- O trabalho do artista é registrar detalhes que o príncipe está ocupado demais para ver - afirmou, descrevendo a viagem de Charles como - seis intensos dias de trabalho em jantares de Estado - na Eslováquia e na Bulgária, entre outros lugares.
Voltamos a conversar sobre a missão do artista no casamento real: ser testemunha e documentar um evento importante.
- A tradição da Coleção Real é comissionar artistas para registrar todos os eventos, sejam eles alegres ou tristes - afirmou Creswell.
O artista mencionou o pintor e impressor John Piper, designado como artista de guerra oficial durante a Segunda Guerra Mundial. - Havia milhões de fotógrafos em Londres - durante os ataques aéreos, - mas a ideia é ver mais que a verdade literal por trás daquele evento.
Meio século depois, foi a vez de Creswell documentar um momento sombrio na história britânica, o devastador incêndio no Castelo de Windsor em 1992, ano que a rainha Elizabeth chamou de "annus horribilis".
E se houvesse um artista oficial no mês de agosto em Las Vegas para documentar a festa em que Harry perdeu mais do que a camisa em um jogo de bilhar, a julgar pelos vídeos que apareceram no site de celebridades TMZ?
- O trabalho ficaria muito melhor do que o feito pelo iPhone - afirmou Creswell, de 55 anos, - mas acho que estou velho demais para esse tipo de festa.