"Fundador da axé music", como lembra nas conversas com os jornalistas em Gramado, o cantor Luiz Caldas estreia num longa-metragem cantando duas canções no documentário musical Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!.
Ele quer que esta seja apenas a primeira de várias experiências no cinema - o papo, com ele, parece ser sempre sobre ampliar horizontes e aumentar o alcance e a abrangência de seu trabalho.
Confira o que disse Luiz Caldas à ZH em sua passagem pelo 40º Festival de Cinema de Gramado:
ZH - Além da estreia no cinema, esta é também a sua estreia num festival?
Luiz Caldas - De cinema, sim. Já havia vindo aqui tocar e passear, tive de voltar para prestigiar o filme, porque Gramado é um paraíso. Espero que haja outras oportunidades, ainda mais agora que meu filho se formou em cinema: quero fazer mais filmes, trilhas etc. Como eu disse no tapete vermelho: Brad Pitt que se cuide.
ZH - Nos últimos anos você passou a tocar outros gêneros além de axé, entre eles heavy metal. Fala um pouco desta mudança, por favor.
Caldas - Estou celebrando a liberdade de poder fazer o que quero, me comunicando com o público sem intermediários. Hoje em dia componho e executo da música erudita à chula, sabia? Em dois anos fiz 250 músicas, sendo que 130 delas já estão disponíveis no meu site (luizcaldas.com.br). Quero que as pessoas ouçam, abram suas mentes como eu tenho feito. Isso é o legal desta época: a internet possibilita que se tenha muitas experiências diferentes a cada instante, ouvindo coisas que, se dependêssemos das gravadoras, nunca ouviríamos. Para mim, que me sustento tranquilamente com os muitos shows que faço, é uma bênção: ganhar um pouco a mais ou não com discos não faz tanta diferença assim
ZH - Você está festejando a derrocada da indústria?
Caldas - Sim. Mas tem o seguinte: o modelo das gravadoras faliu, mas o sistema ainda é viciado. Os produtores moldam as músicas até deturpá-las, tirando seu próprio sentido. Continuam numa ânsia do consumo fácil, apesar de todas as mudanças recentes. Aí vendem por aí músicas e artistas como se eles fossem axé, sertanejo, forró, coisa que na verdade não são mais, de tão deturpadas que ficaram.
Há audiência e popularidade. A busca por audiência imediata não significa popularidade. Eu sobrevivo bem apesar das oscilações do mercado porque tenho popularidade. Quando alguém se apodera de uma canção e mexe muito nela buscando se aproximar do público, consegue no máximo uma audiência imediata. E só.