- Somos primatas em busca de padrões - dispara Michael Shermer, antes de explicar como, na evolução das espécies, teria se revelado mais vantajoso aos animais acreditarem do que duvidarem.
Um animal que, ao ouvir um barulho durante a noite, acreditasse se tratar de um predador e se protegesse correria um risco menor de morrer do que aquele que imaginasse se tratar do uivo do vento, explicou Shermer.
Conferencista da noite desta segunda-feira no ciclo Fronteiras do Pensamento, o cientista, escritor e professor, formado em Psicologia e em História da Ciência, tratou de desconstruir crenças que, segundo ele, formamos em contextos criados pela família, por amigos, colegas, pela cultura e pela sociedade. Com dois livros lançados no Brasil - Por que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas e Cérebro e Crença -, fundador da revista Skeptic e colunista da Scientific American -, Shermer revelou aos porto-alegrenses outra faceta: a de conferencista hábil em traduzir para o universo pop os conhecimentos científicos aos quais tem dedicado sua vida.
- Sabem como sabemos que não foi o governo Bush que orquestrou os atentados de 11 de setembro de 2001? - indaga. - Porque deram certo! - arremata, arrancando risos com uma das muitas piadas da noite.
Do início ao fim, Shermer fez uso de referências famosas na internet, em correntes de e-mail e nas redes sociais: ilusões de ótica, imagens de santos, OVNIS, mensagens subliminares satânicas escondidas em clássicos do rock entre outras. Tudo está sujeito a ser refutado pela ciência. Basta que se duvide, garante o cético.
Às imagens e aos sons - e piadas -, Shermer contrapõe seu ceticismo embasado em explicações científicas, sobretudo ligadas à psicologia e à neurociência. Suas evidências são várias: há estruturas cerebrais que, se estimuladas, produzem a sensação de "sair do corpo"; quanto mais autoconfiantes, menos supersticiosos. Mais do que dizer "duvide de tudo" - o que certamente geraria rejeição -, o cientista diz "questione".
Ciência é a melhor aliada
O homem quer acreditar, explica o conferencista, mas é justamente ao resistir à tentação da crença que ele encontrará o conhecimento - e nessa busca, a ciência é sua melhor aliada.
- Palavras como "paranormal" e "supernatural" são substitutas para "eu não sei" - disse Shermer.
Frequentemente, quando sua palestra chega ao fim, vem da plateia a pergunta: "se devemos duvidar de tudo, por que deveríamos acreditar em você?". A resposta de Shermer é quase sempre a mesma:
- Você não deve - arremata, normalmente emendando a provocação: - Prove que estou errado.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Natura, Gerdau e Grupo RBS. O projeto conta com parceria da UFRGS, apoio da Petrobras no módulo educacional e parceria cultural de Unisinos, prefeitura de Porto Alegre e governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Leia mais sobre Michael Shermer no Fronteiras do Pensamento 2012:
"Shermer: 'todos têm propensão a acreditar em coisas estranhas'"